NÃO ERA PARA DAR ERRADO
O apartamento estava escuro.
Só a luz da tela iluminava o rosto de Antônio.
Ele estava sentado na poltrona, a perna cruzada, o charuto queimando lento entre os dedos.
O homem ao lado dele — um dos seus — aproximou-se e entregou o celular.
Antônio colocou o celular no ouvido.
Ouviu.
— Ok. — murmurou, e desligou.
Sem pressa, digitou outro número.
Chamou.
A ligação atendeu na segunda vez.
— Pegue a outra mulher. — disse, sem elevar o tom. — Corte o dedo dela. Envie foto. Agora.
Houve silêncio do outro lado.
Depois, a voz — trêmula.
— Senhor… senhor… ela e o seu filho fugiram.
A mão de Antônio parou no ar.
Ele ficou imóvel.
O rosto não mudou.
Mas o ar no cômodo gelou.
— Fugiram? — perguntou, como quem confirma a sentença de alguém.
— S-sim, senhor.
— Inútil. — Antônio cortou.
Não levantou a voz.
Não precisava.
A voz veio baixa. Afiada. Feita para cortar carne.
— Vocês são imbecis. — continuou, respirando fundo. — Do