Pov. Ethan
A casa dos meus pais sempre foi um palco de aparências. Tapetes caros escondendo rachaduras, retratos sorridentes congelando um passado que nunca existiu. Cresci aprendendo que o silêncio é mais valioso que a verdade — e talvez por isso tenha demorado tanto pra chegar até aqui.
Naquela noite, o vento soprava forte, fazendo as cortinas balançarem como fantasmas inquietos. Eu estava parado diante da porta do escritório do meu pai, segurando o mesmo peso que vinha arrastando há meses. Do outro lado, vozes. As vozes deles. Minha mãe falava baixo, tentando ser conciliadora, como sempre. Meu pai, em tom grave, falava sobre contratos, fusões e a imagem da família.
A mesma conversa de sempre. Respirei fundo e bati à porta.
— Entre. — A voz do meu pai ecoou, firme e impaciente.
Abri a porta. Eles estavam ali — sentados em seus lugares habituais. Meu pai atrás da mesa de mogno, com a gravata ainda impecável mesmo às nove da noite. Minha mãe no sofá de veludo claro, com o olhar sereno