O som da chuva caindo contra o vidro da pequena janela parecia acompanhar cada suspiro de Isabella Duarte. Três meses de desemprego não haviam sido nada fáceis, e cada dia começava com a sensação de que o mundo inteiro conspirava para lembrá-la de suas limitações. Ela olhou para o apartamento pequeno, bagunçado, tentando encontrar algum conforto naquele espaço que já foi seu refúgio, mas agora parecia apenas ecoar suas frustrações.

O café esfriava na xícara, e o silêncio da manhã era quase sufocante. Isabella havia mandado dezenas de currículos nos últimos meses, participado de entrevistas que sempre terminavam com um “obrigada, mas não” e, ainda assim, não desistia. Cada tentativa era um esforço de esperança — uma tentativa de mostrar que podia mais, que não se limitava às portas que se fechavam.

— “Você consegue, Isabella. Só mais uma oportunidade, talvez a última.” — murmurou para si mesma, tentando transformar a ansiedade em determinação.

Ela se levantou, ajeitou os cabelos castanhos ondulados e olhou para o espelho, notando as olheiras e a expressão cansada, mas ainda assim reconhecendo a força que carregava. Ela sempre fora dedicada, determinada, aquela que não abaixava a cabeça para ninguém, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao redor.

Na mesa, um jornal esquecido chamava sua atenção. Não lembrava quando havia comprado a edição, mas algo a fez folhear as páginas amareladas. Folheando distraidamente, passou por anúncios de pequenas lojas, restaurantes e vagas temporárias, até que uma manchete específica a fez parar de repente:

“Moretti Corp procura secretária executiva bilíngue. Exige-se discrição, responsabilidade e comprometimento absoluto.”

O coração de Isabella disparou. Moretti Corp. O nome soava familiar, mas ela tentou não pensar demais. Não podia ser coincidência. Respirou fundo, tentando acalmar a mente acelerada, enquanto relia o anúncio várias vezes. Aquela era mais do que uma simples oportunidade. Era um desafio, e ela sabia disso.

Pegou o celular, abriu seu currículo atualizado e respirou fundo. A ansiedade misturava-se à esperança, formando um turbilhão dentro dela. Com dedos trêmulos, digitou o e-mail, revisou cada palavra, certificando-se de que transmitia profissionalismo e dedicação. Cada detalhe era importante. Cada linha poderia ser a diferença entre continuar naquela rotina sufocante ou finalmente sentir que estava avançando.

— “É só mais uma chance, Isabella. Talvez a única.” — repetiu em voz baixa, tentando se convencer de que daria certo.

Ela enviou o e-mail e, pela primeira vez em dias, sentou-se e deixou que a tensão saísse do corpo, mesmo que apenas por alguns minutos. O silêncio voltou, mas agora havia algo diferente. Uma sensação de possibilidade. Uma fagulha de esperança.

Os dias seguintes foram uma mistura de expectativa e nervosismo. Cada toque do telefone fazia seu coração disparar. Cada mensagem de e-mail não lida parecia um teste de paciência. Ela continuava enviando currículos para outras vagas, tentando se distrair, mas nenhuma delas parecia tão importante quanto aquela.

Na quarta-feira, o telefone finalmente tocou. Isabella quase não conseguiu atender de tão nervosa que estava.

— Srta. Isabella Duarte? — perguntou uma voz feminina, clara e profissional.

— Sim, sou eu.

— Falo do setor de RH da Moretti Corp. Seu perfil chamou nossa atenção. Gostaríamos de agendar uma entrevista amanhã, às nove da manhã.

Isabella engoliu em seco, sentindo o coração bater tão rápido que parecia sair do peito.

— C-claro! Estarei lá. Muito obrigada! — conseguiu responder, com a voz tremendo.

Desligou o telefone e olhou para o reflexo no espelho. O cabelo bagunçado, os olhos cansados, a pele ainda marcada pela falta de descanso… Mas, pela primeira vez em semanas, ela viu algo diferente. Havia brilho nos olhos, esperança, determinação. Talvez fosse isso que a tiraria da rotina sufocante que se instalou em sua vida.

Na manhã seguinte, Isabella acordou antes do despertador. O nervosismo não deixou que dormisse direito, e cada movimento parecia carregado de tensão. Vestiu a roupa mais adequada que tinha — uma blusa branca impecável e saia lápis azul-marinho — e respirou fundo, lembrando-se de repetir mentalmente:

— “Você consegue. Este é apenas o começo.”

Ao chegar à Moretti Corp, o prédio espelhado e imponente parecia maior do que qualquer coisa que ela já havia visto. O reflexo do céu cinzento nas paredes de vidro a fez sentir pequena, mas ao mesmo tempo determinada. Ela respirou fundo, colocou um sorriso no rosto e entrou no saguão elegante, cumprimentando a recepcionista com educação.

— Bom dia. Tenho entrevista marcada para o cargo de secretária executiva.

— Claro, Srta. Duarte. Pode subir ao último andar, sala do Sr. Moretti.

O nome fez seu coração congelar. Moretti. Ela teve que se controlar para não deixar a ansiedade transparecer. “Não importa agora”, repetiu mentalmente, tentando se concentrar na missão: conquistar o emprego.

No elevador, os minutos pareceram horas. Cada andar passado aumentava a tensão, cada respiração se misturava à lembrança do passado que ela tanto tentava esquecer. Quando as portas se abriram, o corredor silencioso parecia reverberar com memórias antigas, mas Isabella manteve os passos firmes.

Ela não sabia que, ao bater na porta daquele escritório, o destino a colocaria frente a frente com Ethan Moretti, o homem que marcou seu coração e o fez acreditar que o amor poderia existir — e desaparecer sem explicação. Mal sabia ela que aquele seria o começo de uma história onde o amor, o orgulho e o poder se chocariam de formas que nenhum dos dois estava preparado para enfrentar.