Mundo de ficçãoIniciar sessão
O som dos saltos de Lívia Andrade ecoava pelo corredor de vidro como um metrônomo preciso. Cada passo era um lembrete silencioso de que ela dominava aquele território. A sala de treinamento, ampla e moderna, cheirava a café recém-passado e expectativas.
O vidro da porta deslizou.
Rafael Menezes entrou.
— Bom dia — ele disse, com a voz grave, limpa, cortante.
— Bom dia — respondeu ela, firme, tentando ignorar o arrepio leve que subiu pelo pescoço. — Vamos começar?
Rafael assentiu, mas seus olhos a percorreram com curiosidade — não como um homem que deseja, mas como alguém que reconhece um desafio.
Durante a primeira hora, ela conduziu o treinamento com maestria. Falava sobre estratégias de venda, fidelização, liderança.
Quando ela perguntou algo, ele foi o único a responder.
— Acho que o verdadeiro segredo das vendas é saber ouvir — disse ele, cruzando os braços. — Mas poucos estão dispostos a ouvir de verdade.
Lívia arqueou uma sobrancelha.
— Depende do que eu estiver ouvindo — respondeu, com um meio sorriso que mais parecia um convite.
Alguns colegas riram discretamente.
“Não, Lívia. Não vá por esse caminho”, pensou.
Mas ele não parava de provocá-la com perguntas inteligentes, comentários sutis, e aquele olhar que parecia despir a alma.
Quando o intervalo chegou, ela ficou sozinha na sala. Ou achou que estava.
— Você fala com tanta paixão que é quase impossível não te ouvir — disse, baixo, como se confessasse um segredo.
Ela se virou devagar.
Ele se aproximou um passo.
— E se o seu trabalho for me ensinar… — ele disse, inclinando a cabeça, o olhar direto — …espero que tenha paciência. Eu costumo aprender melhor com prática.
Lívia conteve o fôlego.
Mas então, o autocontrole.
Ele sorriu, sem disfarçar o desafio.
Ela o ignorou, mas o som da voz dele ficou ali — ressoando, vibrando, habitando lugares dentro dela que ela pensava estarem adormecidos.
E enquanto o elevador se fechava atrás dele, Lívia percebeu…







