A mala azul estava aberta sobre a cama, vazia, esperando decisões.
A viagem para Lisboa era dali a sete dias. O convite da Feira Internacional de Literatura havia sido uma consagração — um símbolo de que Aurora e Davi não apenas reconstruíram suas próprias histórias, mas estavam prontos para levá-las ao mundo.
Mas quanto mais perto da data, mais o entusiasmo de Aurora dava lugar à ansiedade.
Ela passava longos minutos em silêncio, encarando o nada, escrevendo listas que não completava, apagando rascunhos no bloco de notas do celular. À noite, demorava a dormir. E, quando dormia, tinha pesadelos com auditórios vazios ou perguntas embaraçosas de jornalistas.
Davi, por outro lado, parecia pronto. Enérgico. Entusiasmado como um garoto indo conhecer o mundo pela primeira vez. Tinha comprado adaptadores de tomada, separado o passaporte, feito check-in em um hotel com vista para o Tejo.
— E se ninguém aparecer? — Aurora perguntou, certa noite, enrolada em um cobertor no sofá.
— Impossível —