Sexta-feira / Final da tarde — Campus da faculdade O sol descia lento atrás dos prédios da universidade, pintando o céu de um laranja abafado. Luna estava sentada sob uma árvore, o notebook no colo, quando seu celular vibrou. Achou que fosse Sophia. Mas não era. Era uma mensagem anônima. “LadyInSilk? É você, né? ;) Tô na sua turma agora. A gente se vê, fada.” O sangue dela gelou. Ela olhou ao redor, o coração acelerando, as mãos suando. Gente demais. Risos demais. Nenhuma pista. Era só um aviso. Um aviso com dentes. Fechou o notebook com força e guardou tudo na mochila. Saiu andando rápido, quase correndo. Quando chegou em casa, trancou todas as portas, desligou o celular, e só respirou de novo quando ligou para Sophia. — Luna? — a voz de Sophia veio do outro lado, preocupada. — Alguém me reconheceu. Me mandou mensagem. Me chamou de LadyInSilk. — Onde você tá? — Em casa. — Tô indo. Vinte minutos depois, Sophia invadia o apartamento como se pudesse enfrentar o mundo com as
Segunda-feira / Final da manhã — Escritório improvisado de Sophia O computador exibia três janelas abertas. Duas de mensagens com o jurídico. Uma com o programador de segurança da Stuart & Co. E no centro da mesa, o celular de Luna, com as mensagens anônimas salvas e prontas para análise. Sophia caminhava de um lado para o outro, os braços cruzados, a mandíbula travada. Luna estava sentada, os olhos nela. — O IP foi rastreado até a rede da faculdade, certo? — ela perguntou. — Sim, mas o acesso foi feito por VPN. Isso indica que a pessoa sabe o que está fazendo. Alguém com noções básicas de anonimato online. — Sophia parou, encarando Luna. — Ou seja, alguém próximo. Alguém que já te observava faz tempo. Luna respirou fundo. — Você acha que é pessoal? — Luna… você mexe com o desejo das pessoas. Mas também mexe com o poder. Ser desejada desse jeito dá controle. E quem sente que perdeu o controle, às vezes, quer punir. Luna engoliu em seco. Sentiu o coração bater mais alto. Em out
Nota da autora: Dois meses se passaram desde o fim do estágio. Luna, Isadora, Bruno, Letícia e Marcos foram efetivados como desenvolvedores do app de bem-estar na Stuart & Co. Apesar de não serem mais estagiários, a rotina da equipe se manteve intensa. A responsabilidade aumentou — assim como a visibilidade. E com isso, os riscos. ⸻ Sexta-feira / Faculdade / Sala do grupo de desenvolvimento O silêncio era denso. Letícia folheava uma revista sem realmente ler, Bruno tamborilava os dedos na mesa, e Isadora olhava para Luna com o cenho franzido. Luna respirou fundo. Havia praticado o que queria dizer, mas as palavras pareciam evaporar quando encarava os olhos das pessoas que estiveram ao seu lado por tanto tempo. — Foi o Marcos. — disse, de uma vez só. — Ele descobriu sobre a minha vida fora daqui. Tentou me chantagear. E quando eu me recusei a ceder… ele ameaçou vazar tudo. Isadora arregalou os olhos. — Meu Deus… Luna. — Ele está suspenso, a empresa abriu investigação interna e
Sábado / Início da tarde / Apartamento de Sophia Luna estava sentada no sofá, com o notebook apoiado nas pernas. O sol atravessava as cortinas finas e riscava seu rosto de luz e sombra. Sophia, de pé ao lado da mesa de jantar, falava baixo ao telefone com alguém da área de cibersegurança da empresa. — Quero o rastreamento completo. IP, provedor, localização. Se essa conta tiver qualquer histórico em nossa rede, rastreiem. Nome da conta: Dark_Observer. Prioridade máxima. — ela fez uma pausa, ouvindo. — Obrigada, Amanda. Me avise assim que tiver qualquer retorno. Luna fechou o notebook devagar. — Eles vão conseguir? Sophia caminhou até ela e se sentou ao seu lado. — Não sei. A pessoa por trás dessa conta é cuidadosa. Usa redes privadas, não interage diretamente, só observa. Mas agora que mandou mensagem, deixou rastro. Vamos seguir isso. Luna olhou para as próprias mãos. — Sabe… eu achei que depois que eu te contasse tudo, depois que eu deletasse minha conta, o pior tive
Segunda / Manhã — Apartamento de Sophia A luz fria da manhã atravessava os vidros amplos do apartamento de Sophia, espalhando sombras longas pelo chão de madeira. O silêncio era espesso, quebrado apenas pelo gotejar da cafeteira automática e o leve tilintar da colher contra a porcelana branca da xícara. Sophia estava sentada à mesa, ainda com o robe de seda vinho escorrendo pelos ombros, o olhar fixo na tela do notebook, onde o e-mail ameaçador pulsava como uma ferida aberta. “LadyInSilk deixou rastros. Você vai mesmo protegê-la quando todos souberem quem ela é?” Ela não precisava reler. A frase já estava queimada na memória, como uma marca. O remetente era desconhecido, mas o estilo… havia algo pessoal ali. Intencional. E venenoso. Seu celular vibrou, discreto. Ela não se mexeu de imediato. Bebeu o café. Sentiu o amargor bater na língua como um soco seco. Só então deslizou o dedo pela tela. Luna: “Ele respondeu o seu e-mail?” Sophia hesitou. Os dedos pairaram sobre o t
Terça/Manha — Laboratório da Faculdade.A luz artificial do laboratório de projetos piscava de leve, irritante. Luna tentava focar no código, mas os olhos fugiam para o celular sobre a mesa. A mensagem de Sophia ainda estava ali, aberta. “Preciso de você mais do que nunca. Esta noite?”Ela havia respondido sem hesitar. Mas por dentro, sentia tudo estremecer.— Ei, Luna. — Isadora se aproximou com uma expressão tensa. — Você viu isso?Luna ergueu os olhos. Isadora mostrava a tela do próprio celular. Um perfil no Instagram criado naquela semana: anônimo, sem seguidores, sem nome. Apenas uma única publicação: uma captura de tela distorcida de um frame de uma live antiga. Rosto semi-coberto. Mas familiar demais.Luna sentiu o estômago despencar.— Quem postou isso?— Não faço ideia. Mas marcaram a conta do projeto. E a legenda era tipo… “Nem tudo que brilha é aplicativo.”A mente de Luna correu. A conta estava cancelada. Os vídeos deletados. Ela tinha tomado cada cuidado. Mas alguém tinha
Sexta/Manhã — Stuart & Co.Sophia entrou no prédio da Stuart & Co. antes das sete. O crachá ainda nem havia liberado o andar executivo, e ela já estava sentada à frente de dois dos melhores analistas de segurança digital da empresa, convocados sob um pretexto vago: “testes internos de vulnerabilidade relacionados à privacidade de colaboradores.”Mentira suficiente para funcionar. Verdade o bastante para valer o risco.— Preciso que rastreiem essa conta. — Ela girou o notebook para que os analistas vissem a tela. — Não perguntem por quê. Só confiem que é importante.Os dois se entreolharam, mas assentiram.— Podemos usar proxy reverso e verificar se ela interagiu com algum serviço que aponte IP real. Mas… isso pode demorar.— Não temos tempo. Usem tudo o que for necessário. Interno, externo, contrato confidencial. Se descobrirem o dono do perfil, me avisem antes de qualquer relatório.Ela se levantou, sem esperar resposta. O salto firme soava como sentença.⸻Faculdade — CorredoresEnq
Sábado — Stuart & Co.Sophia passou o dia seguinte em silêncio absoluto dentro da empresa. Não falou com Hugo, nem com Luna. Apenas digitava, analisava e planejava. A tensão em sua postura era quase invisível, mas os mais atentos sentiam o ar denso por onde ela passava.Quando o relógio marcou 17h, ela convocou apenas três pessoas: os dois analistas de segurança e Isadora, a única do grupo da faculdade em quem Luna confiava cegamente.— Vamos atrair o rato até a armadilha — disse, espalhando os arquivos sobre a mesa de reunião privada. — Lucas se reinventou para escapar do que foi. Mas esqueceu de apagar as digitais antigas. Ele nos subestimou.— Como vamos pegar ele? — Isadora perguntou, tensa, olhando para a tela do notebook.Sophia respondeu sem tirar os olhos do monitor.— Vamos simular uma nova exposição. Um print inédito, criado artificialmente, de uma suposta live nunca publicada. Faremos com que o perfil “Dark_Observer” receba essa imagem como isca. Se Lucas estiver alimentand