AVERY WELLES
— Obrigado, senhor. Tenha um ótimo dia. Deixo o telefone de volta no gancho e pego minha caneta novamente, olhando para o relógio no canto da tela do computador. Faltam mais 45 minutos para eu retornar à caverna aconchegante do meu apartamento de um quarto, a apenas quatro quarteirões dali. O pote de sorvete Bem & Jerry’s já gritava meu nome. Ouvi o barulho do elevador acima de mim, mas ainda não tinha olhado para cima, enquanto minha mão rabiscava na página pautada do gerenciador de tarefas da semana que vem, que eu preenchia à mão toda sexta-feira. Ouvi uma tosse e, quando levantei a cabeça, minha respiração ficou presa no fundo da garganta. Cabelos castanhos desgrenhados e uma leve sombra no maxilar incrivelmente esculpido, que se estendia até o topo dos lábios carnudos e belos, maçãs do rosto tão marcadas que seria possível afiar uma faca, e isso antes mesmo de eu conseguir chegar aos seus olhos. Aqueles olhos cor de chocolate, de tirar o fôlego. — Olá? Eu pisquei. — O quê? Ah... S-sinto muito não escutei. Eu conseguia ver a sombra de um sorriso furtivo tentando atravessar aqueles lábios deliciosos. Seu tom rouco acelerou meu coração. — Eu disse: você poderia me dar uma palavrinha, por favor, senhorita Welles? Concordo com a cabeça. Concordo como uma daquelas lembranças com cabeça balançando e me levanto cambaleante. Sigo seu corpo assustadoramente alto pelo corredor, recebendo olhares arregalados dos meus colegas de trabalho, que espiavam pelas janelas e portas de seus escritórios em completo choque. O senhor Brythe nunca veio a este andar. Ele abre uma porta e me faz um gesto para entrar. Engulo em seco, implorando para mim mesma para não tropeçar nos meus saltos novos, que eram cinco centímetros mais altos do que eu estava acostumada. Infelizmente, meus confiáveis saltos da Target tiveram um fim horrível algumas semanas atrás, quando o salto quebrou ao meio depois de ficar preso em uma grade, me obrigando a andar dois quarteirões só de meia-calça. A sala de reuniões tinha uma escrivaninha fina de carvalho no centro da sala mal iluminada, com seis cadeiras dispostas ordenadamente ao redor. Ele me oferece uma cadeira e meu coração dispara, cavalheirismo é aqui mesmo. Ele caminha para o outro lado, abrindo o único botão do paletó azul-marinho antes de se sentar bem à minha frente. Pigarreio. — Algum problema, senhor Brythe? Ele inclina a cabeça para o lado e estreita os olhos. Seu olhar é intimidador. — Eu ouvi você. — Como? Ele lambe os lábios, oh meu Deus. — Eu disse... — ele recomeça, inclinando-se para a frente e apoiando os dedos entrelaçados na mesa. — eu ouvi você. Lá em cima. No meu andar, com a Lalisa. Se o chão pudesse se abrir e me engolir, seria fantástico. Meu rosto ficou vermelho, meu coração disparou e minhas mãos ficaram pegajosas de suor. Respirei fundo, sem tirar os olhos dele enquanto lutava para encontrar as palavras apropriadas e de desculpas para dizer. — Então você acha que Elle é uma interesseira? — Não! — exclamo, um pouco alto demais. — Não, eu nunca disse isso. Ele riu baixinho. — Mas você insinuou. Verdade. — Sinto muito, senhor. — respondi rapidamente, engasgada. O medo crescente borbulhava na boca do meu estômago. — Não tenho palavras para expressar minhas desculpas, senhor. Isso nunca, jamais acontecerá de novo. Sinto mui... — Pare de pedir desculpas. — Desculpe. Ele me olha sem expressão e meu rosto fica ainda mais quente. Ele se inclina um pouco mais para a frente, as mangas do paletó subindo e expondo o mostrador rachado do seu relógio de ouro com pulseira de couro desgastada. — Você já teve namorado, senhorita Welles? — Como? — ofego levemente. Minhas sobrancelhas se ergueram, fazendo com que as rugas aparecessem na minha testa. — Não acho que isso seja apropriado, senhor. Ele cantarolou levemente. — Possivelmente, mas eu adoraria que você me explicasse como consegue tão facilmente descobrir uma... — ele faz uma pausa como se estivesse tentando encontrar a palavra certa — ...uma sanguessuga, de um relacionamento? Como você consegue detectar quando alguém está usando outra pessoa nos primeiros minutos depois de conhecê-la? Luto para encontrar as palavras, engolindo em seco e me remexendo desconfortavelmente sob seu olhar forte e dominante. Mexo no meu esmalte nude lascado, me xingando por não ter consertado ontem à noite, enquanto estava no banho. — Um milhão pelos seus pensamentos? — Tusso quando ele interrompe repentinamente o silêncio que cercava a sala. Lambi os lábios, mordendo a parte interna da bochecha. — Bem, senhor, eu... — Soltei um suspiro longo e trêmulo. — Não posso falar por experiência própria, senhor, só preciso seguir meu instinto. — Ele me observa atentamente. Solto os ombros na esperança de relaxar. — Minha mãe sempre me ensinou que espionar era ruim e, por favor, acredite em mim quando eu digo que não tolero o fato de ter escutado a conversa particular da senhorita Holt, mas ela deixou bem claro o que estava acontecendo em suas vidas pessoais e a opinião muito forte que ela tinha sobre você e seu relacionamento — comecei. Mordi a bochecha interna novamente antes de continuar. — Para qualquer um, senhor Brythe, parecia que a senhorita Holt estava se gabando mais do seu dinheiro do que de você como pessoa. Ele ficou em silêncio e eu poderia jurar que conseguia ouvir as batidas fortes do meu coração junto com o tique-taque do relógio na parede. — E você acha que ela ama apenas o meu dinheiro, e não a mim? — ele questiona. Mordo o lábio e aceno com a cabeça bem devagar. — Desculpe, senhor, eu não deveria me intrometer na sua vida pessoal desse jeito. Desculpe, prometo que meus lábios estão selados. Só preciso saber se meu emprego está seguro? Ele ri baixinho, abaixando a cabeça. Droga, droga, droga. Como eu poderia carregar todas as minhas coisas de volta para o apartamento? Estava quase chovendo lá fora. — Ela realmente achou que eu compraria um jato para ela? Pude sentir um pequeno sorriso dançar em meus lábios, mas o contive quando ele levantou a cabeça novamente. — Desculpe-me, senhor Brythe, mas uma garota não quer que gastem milhares de dólares com ela. Um simples gesto de boa vontade e de coração é suficiente para fazer uma mulher derreter. — mexo nervosamente na bainha da minha saia levantada e pigarreio. — Se uma mulher quer o seu dinheiro, então não é amor. Ele se levanta da cadeira giratória em que estava descansando e caminha para a frente, fazendo minha temperatura subir e uma respiração estrangulada ficar presa na minha garganta. Suas mãos agarram os braços da cadeira, um de cada lado do meu corpo, e meus dedos dos pés se curvam dentro dos meus saltos. Virando minha cadeira para encará-lo, ele se inclina para perto e eu consigo sentir seu cheiro almiscarado. — Então me ensine, senhorita Welles — ele fala, abaixando a cabeça para captar meu olhar nervoso. — Me dê lições de como amar.