Ele entrou no carro, girou a chave e, dessa vez, o motor respondeu com um rugido forte, quase como se estivesse agradecendo pela segunda chance. Merrick levantou o olhar para mim, os olhos ainda arregalados pela surpresa.
— Uau… — um sorriso lento surgiu em seus lábios. — Você realmente sabe o que está fazendo.
Cruzei os braços, arqueando uma sobrancelha.
— Eu avisei.
Ele saiu do carro e se aproximou, a mão estendida em um gesto confiante.
— Obrigado. Meu nome é Merrick, por sinal.
Segurei sua mão, notando o aperto firme, seguro — o tipo de aperto que dizia muito sobre uma pessoa.
— Emma Mery.
— Emma… — ele repetiu meu nome devagar, como se testasse o som dele na boca. Havia algo no olhar dele, uma faísca que me fez prender a respiração por um segundo antes de soltar minha mão.
— Você é uma mágica dos carros, pelo jeito. — o sorriso dele se alargou, carregado de algo entre charme e provocação. — Talvez eu precise de você mais vezes.
Soltei uma risada curta, balançando a cabeça.
— Espero que não precise. Cuide bem do seu carro.
Dei um passo para trás. Dando uma boa olhada em seu corpo forte e perfeito.
— Te vejo por aí. Tchau, Merrick.
— Até mais, Emma. — ele respondeu, a voz grave ecoando atrás de mim.
Quando finalmente cheguei ao dormitório indicado no mapa, meu coração estava disparado. Subi as escadas carregando a mala, sentindo a mistura de expectativa e apreensão crescer a cada degrau. A cada passo, eu me perguntava se eu deveria ter vindo mesmo aqui.
Girei a chave na fechadura, respirei fundo e empurrei a porta.
Fui recebida por uma explosão de energia.
— Oi! — disse a garota que já estava lá dentro, praticamente correndo na minha direção. Ela tinha os cabelos vermelhos mais escuro que os meu presos num rabo de cavalo bagunçado, óculos de armação grossa e um sorriso tão aberto que iluminava o quarto. — Você deve ser minha nova colega de quarto!
Antes que eu conseguisse responder, ela me puxou para um abraço rápido, quase sufocante.
— Oi… sou Emma Mery. — falei, meio sem jeito.
— Eu sou Mia! — anunciou, como se estivesse apresentando um show. — Estava tão animada esperando você! Achei que ia ter que passar o primeiro dia sozinha.
Ela apontou para o lado direito do quarto, onde uma cama já estava toda arrumada com lençóis rosa-choque e uma pilha exagerada de travesseiros.
— Essa é a sua cama. Espero que goste de rosa, porque… bem, eu me empolguei um pouco na decoração.
Ri baixo, pousando a mala perto da cama.
— Está ótimo, obrigada. Não me importo com a cor dos lençóis.
Enquanto eu começava a desfazer a mala, Mia cantarolava uma música animada e arrumava sua prateleira como se estivesse em um clipe de comédia romântica.
Hesitei um instante antes de perguntar:
— Ei, Mia… você conhece alguém chamada Lily?
Ela parou de cantarolar e franziu a testa, pensativa.
— Lily? Hum… não, acho que não. Esse é meu primeiro ano aqui, então ainda não conheço muita gente.
— Ah, claro. — respondi rápido, mas acrescentei com a voz mais baixa: — É que esse quarto era da minha irmã. Antes do… acidente.
Os olhos dela se arregalaram um pouco.
— Ah. Essa Lily. — sentou-se na própria cama, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Eu ouvi uns comentários… tipo, um boato. Dizem que uma aluna sofreu um acidente feio há um ano. Alguns falam que ela estava com o pessoal do time de hóquei, outros que foi numa dessas festas malucas. Nunca soube o que era verdade. Ouvi porque as garotas do corredor adoram transformar tudo em história assustadora.
Um peso familiar apertou meu peito. Forcei um sorriso leve.
— É… acho que essas histórias correm rápido por aqui.
Ela me olhou com cautela, como se quisesse perguntar mais, mas respeitou meu silêncio.
— Bem… o que quer que tenha acontecido, espero que você esteja bem. Se precisar de alguma coisa, sabe que pode contar comigo.
Assenti em agradecimento e voltei a arrumar minhas roupas. A leveza de Mia parecia preencher o quarto, quase abafando o aperto que eu sentia. Em poucos minutos, ela já estava jogada na cama, me bombardeando com perguntas como:
— Pizza ou salada? Filme favorito? Gatos ou cachorros?
Era impossível não rir do jeito dela. Talvez ter uma colega de quarto como Mia não fosse tão ruim.
Enquanto dobrava uma blusa, ela me lançou um olhar curioso.
— Então, quais são seus planos para a universidade? Além das aulas chatas, claro.
Parei por um instante, considerando.
— Na verdade… estou pensando em tentar entrar para o time das líderes de torcida.
Os olhos dela quase saltaram do rosto.
— Sério? — e uma risada surpresa escapou. — Não me leve a mal, mas você não tem cara nenhuma de garota que gosta dessas coisas.
Cruzei os braços, fingindo estar ofendida.
— O que isso quer dizer?