Capítulo 8

 

Mia ergueu as mãos, rindo.

— Ei, não me entenda mal. Você parece… prática, sabe? Tipo, uma garota que resolve problemas. Igual quando consertou aquele carro no estacionamento. Não é exatamente o perfil clássico de alguém que vibra com pompons e saltos.

Arqueei uma sobrancelha.

— Espera aí… como você sabe do carro?

Ela sorriu, divertida.

— Eu te vi enquanto vinha para cá. Difícil não notar.

Suspirei, deixando minha postura rígida ceder um pouco.

— É mais complicado do que parece.

Por um instante, minhas palavras ficaram presas na garganta, mas eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que falar.

— Minha irmã, Lily… Ela nunca se importou com ginástica. Entrou no time de líderes de torcida por causa de um garoto, mas acabou se apaixonando de verdade pelo esporte. Era o novo sonho dela. Mas… agora ela está em coma.

O sorriso de Mia desapareceu no mesmo instante. Seus olhos se arregalaram, como se finalmente estivesse ligando os pontos.

— Espera… o quê? Lily? Sua irmã é a Lily? A garota do acidente de um ano atrás? A mesma sobre quem você me perguntou?

Assenti devagar.

— Sim. Esse era o quarto dela. E quando perguntei, era porque eu precisava saber se você tinha ouvido alguma coisa.

Mia piscou algumas vezes, claramente tentando organizar a enxurrada de informações. Depois, balançou a cabeça, a expressão suavizando em compaixão.

— Eu não fazia ideia… Sinto muito, Emma.

— Está tudo bem. — minha voz saiu baixa, mas firme. — Só que é por isso que quero tentar entrar para o time. Lily nunca teve a chance de se apresentar em um jogo, então eu quero fazer isso por ela.

Mia me observou em silêncio por alguns segundos, até que um sorriso lento surgiu em seus lábios. Ela inclinou a cabeça, como se tivesse acabado de tomar uma decisão importante.

— Sabe de uma coisa? Se você vai tentar, eu também vou. Sempre quis fazer algo assim, mas nunca tive coragem. Talvez eu só precisasse de alguém como você para me empurrar.

Uma faísca de animação atravessou meu peito.

— Ótimo. O recrutamento começa na sexta. Vamos juntas.

Mia se endireitou na cama, o tom descontraído dando lugar a uma seriedade inesperada.

— Mas… ouvi dizer que a capitã, Laila, é uma verdadeira megera com as candidatas. Super popular, cercada de amigas e, claro, com o namorado perfeito: o atacante e capitão do time de hóquei.

Revirei os olhos.

— Claro que ela tem. O pacote completo.

— Exato. — Mia deu de ombros. — Só que ela não facilita para ninguém. Espero que você esteja pronta.

Senti a determinação aquecer meu peito.

— Estou pronta para o que for preciso. Se for para honrar a Lily, eu enfrento qualquer coisa. Até Laila.

Mia riu, balançando a cabeça.

— Gostei de você. Acho que vamos nos dar muito bem.

PONTO DE VISTA DE MERRICK

O gelo respondia ao meu corpo como uma extensão de mim. Cada impulso, cada curva, cada parada era calculada com precisão. Eu dominava aquele rinque como se fosse meu território — e, de certo modo, era. Finalizei o aquecimento e deslizei até a borda, onde vi Laila me esperando nas arquibancadas.

Ela estava impecável, como sempre. Cabelo perfeitamente arrumado, postura de rainha, olhar seguro. Quando me aproximei, me inclinei para beijá-la sem me importar com os olhares invejosos dos caras. Beijos de Laila eram como declarações de posse, e eu já estava acostumado com isso.

— Está pegando leve hoje, capitão? — ela provocou com aquele sorriso que sempre misturava charme e desafio.

Dei de ombros, rindo baixo.

— É só aquecimento.

— Falando em grande evento… — ela revirou os olhos com um brilho divertido. — Não se esqueça de amanhã.

— Amanhã? — arqueei a sobrancelha, mesmo já suspeitando.

— A festa de iniciação das candidatas a líderes de torcida. É seu dever estar lá, Wilde. Capitão do hóquei e capitã das líderes de torcida. Tradição, lembra?

Suspirei. Sabia que não tinha escapatória.

— Certo, estarei lá. Mas você sabe como essas festas acabam… sempre fora de controle.

— Justamente por isso precisamos estar lá. — Laila inclinou o corpo e me roubou outro beijo, o tipo de beijo que dizia: somos os responsáveis aqui.

Antes que eu pudesse responder, a voz firme da treinadora Susan ecoou pelo rinque.

— Wilde!

Me virei, vendo-a se aproximar com aquele semblante sério que não deixava espaço para enrolação.

— Treinadora. Tudo bem? — cumprimentei.

— Sim. — O olhar dela passou rápido por Laila antes de voltar para mim. — Preciso de um favor. Quero usar o rinque amanhã para treinar as candidatas a líderes de torcida. É possível?

— Claro. — concordei sem pensar duas vezes. — Ajusto nosso cronograma para liberar o espaço.

— Pode deixar, treinadora — Laila se adiantou, empinando o queixo. — Eu sempre gosto de um bom desafio.

Susan apenas assentiu e se afastou.

Olhei para Laila, que estava sorrindo satisfeita.

— Você realmente gosta disso, não é?

— É claro. Ser líder de torcida não é só glamour, Merrick. É trabalho duro e dedicação. Amanhã vou garantir que essas garotas saibam disso desde o início.

Balancei a cabeça com um meio sorriso.

— Então acho que amanhã vai ser… interessante.

— Sem dúvida — ela respondeu, com aquele brilho nos olhos que eu já conhecia bem.

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