Capítulo 6

Depois de mais algumas palavras de carinho e promessas de manter contato, Ethan e Olivia voltaram para o carro. Fiquei parada na calçada, observando enquanto o veículo se afastava lentamente. Era como se cada metro de distância pesasse no meu peito — despedidas sempre foram difíceis, mas essa parecia carregar algo ainda maior: a sensação de estar fechando um capítulo da minha vida.

Meu pai quebrou o silêncio ao colocar a mão em meu ombro.

— Você tem um bom círculo de pessoas ao seu redor. Isso vai te ajudar, não importa onde esteja.

Assenti, com um sorriso melancólico.

— Eu sei, pai. E agradeço por isso todos os dias. Desde aquele momento em que você ajudou a salvar Olivia... ela e Ethan viraram família.

Ele respirou fundo, os olhos fixos em mim como se quisesse gravar cada detalhe.

— Agora vá. Mas não esqueça das minhas regras. E, por favor... não pense em se vingar por Lily. Ela não gostaria disso.

Engoli em seco, sentindo a dor se misturar com a determinação.

— Eu não estou indo por vingança, pai. Lily sonhava em ser líder de torcida... e eu vou lá para viver esse sonho por ela.

Por um instante, nossos olhares se encontraram, carregados de tudo o que não precisava ser dito. Então entrei no carro, liguei o motor e lhe dei um último aceno pela janela. Enquanto a casa ficava para trás no retrovisor, uma sensação inédita crescia dentro de mim: pela primeira vez em muito tempo, eu tinha algo pelo qual ansiar.

Mas, ainda assim, um pensamento persistia como uma sombra silenciosa: eu precisava descobrir quem eram aqueles que chamavam de amigos... e que abandonaram Lily para morrer na porta de um hospital.

Uma hora depois, estacionei meu carro no campus de Providence, Rhode Island. O nervosismo e a empolgação travavam uma batalha dentro de mim. O lugar era maior do que eu imaginara — prédios altos, corredores movimentados, estudantes rindo, andando apressados, carregando caixas e sonhos.

Respirei fundo antes de sair do carro. Peguei minha mochila e segui até a recepção, onde uma mulher de meia-idade, com óculos escorregando pela ponta do nariz, me recebeu com uma simpatia contida.

— Seu quarto fica no segundo andar, ala oeste — disse ela, entregando-me uma chave e um pequeno mapa do prédio.

— Obrigada — respondi, guardando os itens como se fossem bilhetes para um novo mundo.

De volta ao estacionamento, caminhava em direção ao dormitório quando algo me chamou a atenção: um garoto estava parado ao lado de um carro preto. O motor tossia e falhava, e ele, claramente irritado, batia o punho contra o volante. Mesmo de longe, dava para ver o quanto ele lutava para manter a paciência.

Um sorriso involuntário escapou de mim.

— Ele nunca vai conseguir ligar esse carro se não aprender a manter a calma — murmurei, mais para mim mesma do que para qualquer outra pessoa.

Me aproximei, ainda hesitante, mas movida pela curiosidade. De perto, percebi melhor o quanto ele era... impressionante. A mandíbula marcada, os cabelos negros que refletiam a luz suave do fim da manhã, os ombros largos sob a jaqueta de couro e a camisa ajustada que deixava evidente os músculos. Mas o que mais chamava atenção eram os olhos — escuros, intensos, quase desafiadores.

Era como se tudo nele gritasse confiança. Ou, pelo menos, tentasse. Afinal, naquele momento, o carro claramente estava vencendo a batalha.

— Precisa de ajuda? — perguntei, tentando soar casual.

Ele ergueu o olhar para mim e soltou uma risada curta, carregada de deboche.

— Como exatamente você vai me ajudar? Não é todo dia que uma garota entende de carros.

Arqueei uma sobrancelha, ignorando a fala machista como quem desvia de um obstáculo pequeno no caminho.

— Bem... por acaso, trabalhei vendendo carros nos últimos anos. Não sou uma mecânica profissional, mas sei resolver alguns problemas.

Cruzei os braços, encarando-o de volta.

— Mas, claro, se preferir continuar brigando sozinho com ele... fique à vontade.

Ele pareceu surpreso com minha resposta, os lábios se curvando em um meio sorriso que misturava ceticismo e diversão. Depois de um segundo de hesitação, deu um passo para trás, cruzando os braços e me dando espaço.

— Ok, então... vamos ver se você é realmente capaz.

Aproximei-me do carro, inclinando-me para observar o motor aberto. O cheiro de óleo e metal quente subiu no ar, misturado ao leve perfume da minha própria pele — e, por um instante, tive a estranha sensação de que ele também reparava nisso.

Depois de alguns segundos analisando, encontrei o problema.

— O cabo da bateria está solto. — ergui o olhar para ele, notando a expressão meio incrédula que carregava. — Nada grave, mas o suficiente para te deixar na mão.

Sem esperar resposta, caminhei até o meu carro e abri o porta-malas. Puxei a pequena caixa de ferramentas que sempre mantinha ali. Quando voltei, vi que ele me observava atentamente, como se ainda tentasse decidir se eu realmente sabia o que estava fazendo ou se era apenas uma encenação.

Me posicionei ao lado do motor, ajustando o cabo com movimentos firmes, e apertei as conexões com precisão.

— Pronto. — bati levemente no capô e me levantei, limpando as mãos na calça jeans. — Tente agora.

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