Capítulo 5

— Não estou dizendo que seria fácil — a treinadora disse, sua voz firme, mas cheia de doçura. — Mas talvez... talvez isso possa ser uma forma de homenagear Lily. Ela nunca teve a chance de torcer num jogo real, de viver isso de verdade. Você poderia fazer isso por ela.

Meu coração acelerou. A ideia parecia absurda. Eu não era Lily. Não tinha o brilho, a energia ou o magnetismo dela. Mas, de algum jeito, as palavras da treinadora fizeram sentido. Como se, por um instante, eu tivesse enxergado uma ponte entre mim e o futuro que minha irmã não pôde ter.

— Eu não sei... — admiti, com a voz baixa. — Não sei se tenho coragem para algo assim. Universidade nunca esteve nos meus planos.

Ela me encarou com firmeza.

— Você é irmã dela. E, mesmo que não perceba, eu vejo em você a mesma determinação que vi em Lily. Só... pense nisso. Não precisa me responder agora.

Eu assenti, sem palavras. Quando deixei a cafeteria, a ideia ainda pulsava dentro de mim. Parecia loucura, parecia impossível. Mas, pela primeira vez em muito tempo, senti algo novo. Uma faísca de propósito.

A segunda-feira seguinte chegou com uma mistura agridoce de ansiedade e nostalgia. Eu já havia tomado a decisão: matriculei-me na mesma universidade que Lily escolheu. Nas mesmas salas, pelos mesmos corredores. Uma forma de me aproximar dela — e, ao mesmo tempo, de encontrar meu próprio caminho.

Meu pai não reagiu bem no início. Disse que eu não precisava me "martirizar" voltando a um lugar que traria tanta dor. Mas, depois de refletir, ele mudou de ideia.

— Talvez seja bom pra você — disse, com um sorriso que escondia preocupação.

Agora eu estava no quarto, dobrando roupas e enchendo a mala. Cada peça guardada era um passo em direção ao novo... mas também um lembrete de tudo que eu estava deixando para trás.

Meu pai apareceu na porta, os braços cruzados, como se ensaiasse um discurso.

— Então, vamos às regras — disse, com a voz séria, mas o olhar suave. — Nada de drogas. Isso nem precisava ser dito, mas vou dizer mesmo assim.

Soltei uma risada curta, sacudindo a cabeça.

— Nem passou pela minha cabeça, pai.

— Bom. — Ele pigarreou. — Também nada de ficar bêbada. Sei que universidade é sinônimo de festa para muita gente, mas você tem bom senso. Use-o.

— Entendido, senhor.

— E, por último... — ele hesitou, mas logo firmou a voz — quero você aqui todos os domingos para o jantar. Sem desculpas. Sem compromissos.

Parei de arrumar a mala, o sorriso escapando antes que eu pudesse segurar.

— Pai, você vai sobreviver sem mim por alguns dias, sabia?

— Talvez. — Ele ergueu as sobrancelhas. — Mas jantar de domingo é sagrado, e você sabe disso.

Fui até ele e o abracei com força.

— Obrigada por sempre estar comigo. Cuide da Lily por mim enquanto eu estiver fora.

Ele retribuiu o abraço, apertando-me contra o peito como se pudesse me proteger do mundo.

— Sempre cuidarei dela, minha menina. Sempre.

Quando ele saiu para levar as malas ao carro, sentei na cama por um instante, olhando ao redor. Aquele quarto guardava todas as versões de mim — a menina sonhadora, a irmã dedicada, a jovem quebrada pela dor. Deixá-lo para trás não seria fácil. Mas talvez fosse exatamente o que eu precisava.

Vinte minutos depois, saí de casa com meu pai logo atrás, carregando a mala mais pesada. O ar da manhã estava fresco, e o céu se abria em tons suaves de azul. Estávamos em silêncio, cada um mergulhado nos próprios pensamentos, quando o som de um motor nos chamou a atenção.

Um carro conhecido estacionou diante da casa. Reconheci na hora: o de Ethan e Olivia.

As portas se abriram. Ethan saiu primeiro, e logo depois Olivia, caminhando com cuidado por causa da barriga já enorme.

— Não podíamos deixar você partir sem nos despedirmos — disse Ethan, sorrindo.

— Vocês não precisavam vir até aqui! — protestei, mesmo já sentindo o coração aquecer.

— Claro que precisávamos — respondeu Olivia, sua voz suave, mas decidida. — Você é importante para nós, e queríamos que soubesse disso antes de começar essa nova fase.

Ela respirou fundo, levando a mão à barriga.

— E, mais importante... queremos saber se você vai estar presente quando nossa filha nascer.

Fiquei sem palavras.

Olivia continuou, os olhos brilhando de emoção:

— Eu sei que sua vida vai ficar corrida com a universidade, mas seria muito especial para mim se você estivesse lá. Você é como uma irmã para mim. Eu quero que o bebê conheça a tia.

As lágrimas ameaçaram escapar. Apertei os lábios, engolindo o nó na garganta.

— É claro que vou estar lá. Não importa o que aconteça, eu dou um jeito. Não é como se eu estivesse presa numa cadeia.

Olivia sorriu largo, e Ethan me puxou para um abraço breve e apertado.

— Sabíamos que podíamos contar com você.

Meu pai, que observava de perto, tinha um pequeno sorriso satisfeito.

— Vocês são boas pessoas.

Ethan o encarou com respeito.

— Estamos só retribuindo o que você e suas filhas fizeram por nós.

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