Narrado por Maitê
Depois que a ligação com o Caveira se encerra, mal tenho tempo de organizar meus pensamentos. A porta do quarto se abre suavemente e a médica entra, vestida com aquele jaleco branco que me dá uma falsa sensação de controle, de segurança. Mas nada dentro de mim está seguro agora.
— Seja bem-vinda de volta, Maitê — ela diz com um sorriso gentil, mas cansado. — Fico muito feliz que tenha acordado. Antes de te liberar para mais visitas, preciso realizar alguns exames. Só queremos garantir que esteja realmente estável.
— Tudo bem, eu entendo — respondo, com a voz ainda embargada, um pouco rouca. — Mas… doutora, pode me explicar o que aconteceu comigo? Estou com medo de ter alguma sequela… Eu não lembro de muita coisa, tudo está muito confuso.
Ela se aproxima e segura minha mão com leveza, e seu sorriso dessa vez é diferente. Quase orgulhoso.
— É bom ver que a médica ainda está viva aí dentro — comenta, me encarando com carinho. — Maitê, você teve uma overdose de heroína.