O amanhecer não pediu licença. Chegou áspero, sem delicadeza alguma, como se o mundo não tivesse o menor respeito pelo que ainda pulsava em mim.
Acordei com uma sensação incômoda, quase primitiva, de estar sendo observada. Meu corpo ainda estava pesado, a perna latejando num lembrete constante da fragilidade que eu tentava ignorar. Abri os olhos devagar, como quem teme encontrar a verdade, e o coração disparou ao reconhecê-la.
Ethan estava sentado na poltrona, a poucos metros da cama.
Já estava vestido, postura impecável, a expressão séria demais para aquela hora da manhã. Não havia traço algum do homem que, horas antes, me segurara como se eu fosse essencial. Sobre a mesinha ao lado dele, alguns papéis repousavam perfeitamente alinhados, frios, calculados, quase ofensivos diante do que havíamos compartilhado.
Ele não desviou o olhar quando percebeu que eu estava acordada.
Sorri, apesar de tudo. Um sorriso pequeno, cansado, quebrado. O tipo de sorriso que nasce quando o coração j