Layla
Rotina. Palavra bonita para quem nunca teve a vida invadida por sombras. Eu tentei. Depois de tudo, depois da queda de Bart e da máscara arrancada, eu tentei. Acordava cedo, ia para a ONG, voltava, passava algumas noites na cobertura de Kaleo e outras no meu apartamento. Fingir normalidade virou um exercício, como quem reaprende a andar após um acidente.
Mas o problema é que sombras não se importam com rotina. Elas só precisam de um buraco.
As primeiras mensagens chegaram em envelopes brancos, deixados na portaria. Fotos minhas na rua, saindo do trabalho, comprando pão, pegando o ônibus.
Nada explícito, mas cada imagem trazia a sensação de que o ar ao meu redor tinha olhos. Eu mostrava ao segurança do prédio, ele dizia que ninguém tinha subido, que as câmeras não registravam nada.
Eu tentava respirar. Tentava acreditar que era paranóia. Até que uma noite, a prova de que não era.
Cheguei cansada da ONG, deixei a bolsa no sofá e fui direto ao quarto. A janela estava fechada, como