Kaleo
Eu a segui.
Noite funda, vento cortando esquinas e trazendo risos em migalhas. Layla estava com Sarah na calçada, dividindo um doce barato como quem partilha alívio.
Ela ria com a cabeça jogada para trás, e eu, escondido na sombra, ouvi o corpo dela antes de ouvir a rua. Quando se despediram e ela entrou sozinha em casa, minha decisão ficou do tamanho do meu peito: não recuo.
Cruzei a rua com o silêncio de quem conhece o terreno. O portão baixo foi só um detalhe, casas que confiam demais em trancas acreditam em anjos. Ingenuidade. Pela janela, vi o gesto dela: bolsa no sofá, luz quente acesa, os dedos tirando elástico do cabelo. Quase doce. Quase.
Empurrei a porta e entrei.
— Que porra…? — ela se virou, olhos arregalados, o susto queimando nas bochechas — Você perdeu a noção de vez, seu louco?
Fechei a porta atrás de mim, o clique da fechadura soando como o prelúdio de desastre natural.
— Noção é o que me impede de fazer metade do que eu penso. — Dei um passo, devagar — Hoje eu