Dante está diferente.
Ele saiu do quarto há algum tempo e agora está do lado de fora, caminhando de um lado para o outro, como um animal enjaulado. A brasa do cigarro brilha no escuro toda vez que ele leva o filtro aos lábios, tragando fundo, silencioso, perdido demais nos próprios pensamentos para notar minha presença.
Encosto-me ao batente da porta, cruzando os braços enquanto o observo. A luz fraca do chalé ilumina parcialmente seu rosto, destacando o maxilar travado, os olhos sombrios e a tensão evidente em cada músculo de seu corpo.
Ele está nervoso.
Dante só fuma quando algo realmente o incomoda.
Ele solta a fumaça devagar, observando o nada, os ombros rígidos, a perna inquieta batendo contra o chão de terra batida. A impaciência dele é quase palpável. Algo está errado. Algo grande. O silêncio da noite torna tudo ainda mais sufocante.
Abro a boca para chamá-lo, tentar acalmá-lo, mas antes que eu diga qualquer coisa, o ronco de um motor corta o silêncio.
Meus músculos se enrijece