As linhas do rosto de Leandro se reteasaram levemente: — Vocês não têm o que fazer, não?Adalberto soltou uma baforada de fumaça, deu um leve tapa na cinza do cigarro e disse, com um sorriso nos olhos: — Estou curioso sobre essa tal de Marília. Que tal você trazê-la aqui para dar uma sentada? Eu e o Raulino podemos até dar um presente pra ela.Leandro franziu a testa, sem responder.Raulino falou de repente: — Você e a Marília estão recém-casados, né? Por que resolveu marcar uma jogatina logo hoje? Brigaram?Raulino era mais atento que Adalberto.Leandro nunca foi muito de sair à noite. Costumava aproveitar apenas as duas noites da semana em que estava de folga do hospital, e mesmo nessas ocasiões só aparecia depois das oito ou nove da noite. Hoje, claramente, saíra mais cedo, e o mais incomum: foi ele quem os convidou.Raulino se lembrou da última vez em que Leandro tinha sido o responsável por marcar um encontro com eles. Naquela ocasião, Zélia apareceu, e logo depois Leandro
Durante três dias seguidos, Leandro não voltou para casa para jantar. Marília achava que ele já havia comido fora, mas, ao limpar o quarto, viu o remédio para o estômago e o copo de água dele em cima do armário.Marília estava bastante aborrecida. Enquanto escolhia uma lava-louças no shopping, não conseguiu se conter e contou tudo para Zélia.Depois de ouvir, Zélia não conseguiu segurar o riso:— Pelo visto, ele está morrendo de ciúmes.Marília encheu as bochechas de ar, indignada:— Está claro que ele está com raiva de mim!— Ficar com raiva de você só prova que ele está com ciúmes!— Por que você sempre acha que ele gosta de mim? Eu não sinto nada disso!Zélia lançou-lhe um olhar cheio de significado:— Leandro é diferente dos outros homens. Com o status e a posição que tem atualmente, está cercado de tentações incontáveis. Meu irmão me disse que, durante todos esses anos, ele nunca teve nenhuma mulher por perto. Um homem que sempre se manteve afastado das mulheres, de repente vai com
Marília queria acreditar que Leandro não a trairia, mas só de pensar que havia uma Serafina ao redor dele, de olho em qualquer brecha, apertou os lábios:— O que eu devo fazer, então?Zélia levou Marília para o andar de baixo, até uma loja de lingerie, e escolheu algumas peças para ela.Quando Marília viu o quão reduzido era o tecido das lingeries, entendeu logo que se tratava de peças sensuais e recusou instintivamente:— Eu não quero.— Você vai ficar linda com isso!Zélia até levantou uma das peças e a aproximou do corpo dela para comparar.Marília percebeu que as vendedoras ao redor estavam todas olhando, e seu rosto ficou vermelho de vergonha:— Pode ser lindo, mas eu não quero. Não preciso disso. Vamos embora!Ela se virou para sair, mas Zélia foi direta:— Vou levar esta aqui, esta também e aquela ali também.Marília viu que cada peça era mais ousada do que a outra e ficou ainda mais constrangida:— Fica com elas para você.— Você nunca ouviu aquele ditado? "Casal que briga na ca
— Você deve saber por que vim te procurar. — Disse Anselmo com aspereza.Leandro o encarou, o rosto impassível.— Marília agora é minha esposa. Você não deveria mais se importar com ela.— Sua esposa? — Anselmo repetiu as palavras com um sorriso sarcástico no canto dos lábios. — Pelo que me lembro, você é da mesma geração do tio Leovigildo. A Mimi devia te chamar de tio. Casar com a própria sobrinha não teme virar motivo de chacota por aí?Leandro respondeu com indiferença:— Você traiu a Mimi com a melhor amiga dela e não se importa com o que os outros pensam. Comparado a isso, nosso casamento foi legítimo e transparente, sem trapaças nem mentiras. Acho que as pessoas não vão nos ridicularizar.O rosto de Anselmo ficou tenso. Diante da calma do outro, sua raiva transbordou.— Leandro, a Mimi é minha. A pessoa que ela ama sou eu. Estamos juntos há dez anos. Você tem ideia do que isso significa? Fiz parte da metade da vida dela. Conheço toda a sua rotina, seus gostos, o que ela prefere c
Leandro geralmente almoçava fora, e já tinha passado da hora do almoço. Marília sabia que, às vezes, ele se dedicava tanto ao trabalho que até esquecia de comer ou dormir. Agora eram apenas três da tarde, então talvez ele realmente ainda não tivesse almoçado.Ela largou rapidamente o controle remoto e se levantou:— Você já almoçou? Se ainda não comeu, posso preparar algo para você...Antes que terminasse de falar, viu o homem caminhar em sua direção com o rosto fechado. Antes que Marília pudesse reagir, ele se abaixou e a pegou nos braços, carregando-a em direção ao quarto dela com passos largos.Ele a jogou na cama.A cama era macia, e, embora isso impedisse que ela se machucasse, o ato de "jogar" em si já demonstrava agressividade. Marília ficou um pouco tonta com a queda e, quando tentou se levantar, o homem já estava por cima dela, pressionando-a de volta contra o colchão.— Leandro, o que você está fazendo?Marília já podia imaginar o que ele queria. Afinal, ele a tinha levado par
Marília achava que já havia perdido a virgindade, então, além de envergonhada e nervosa, não sentia muito medo.No entanto, a experiência que veio a seguir estava longe de ser agradável.Não se sabia ao certo quanto tempo havia se passado; a luz dourada do sol além da janela de vidro havia se tornado laranja-escura, e o ambiente no quarto também se tornara mais sombrio.Quando Leandro terminou, acendeu o abajur sobre o criado-mudo.Com os dedos, afastou os fios úmidos do rosto da mulher, revelando seu rostinho corado e levemente suado. Havia marcas de lágrimas em seu pequeno rosto do tamanho da palma de uma mão, e seus olhos permaneciam fechados, com uma expressão que transbordava fragilidade.Ao baixar o olhar, viu marcas espalhadas pela pele branca dela.Todas deixadas por ele.Um incômodo repentino se formou dentro de Leandro. Puxou aleatoriamente a coberta fina ao lado e a cobriu, levantando-se logo em seguida e indo até o banheiro.Ao acender a luz do banheiro, viu imediatamente a
Leandro percebeu:— Aconteceu alguma coisa?Marília assentiu imediatamente. Hesitou por um momento, mas ainda assim perguntou, curiosa:— Acabei de ver sangue no lençol. Naquela vez com você no hotel... a gente não chegou a fazer nada, não é?Leandro respondeu com uma expressão tranquila:— Não chegamos ao fim.Marília confirmou a suspeita que tinha em mente e ficou imediatamente corada:— Por que você não me explicou isso antes? Me fez pensar que... Achei até que estava grávida, e queria que você assumisse a responsabilidade...Se ela soubesse antes que não tinham realmente terminado o que começaram, com certeza não teria tido coragem de ir ao hospital confrontá-lo daquela maneira. Só de lembrar das coisas que disse para ele...Marília queria enfiar a cabeça num buraco. Ela chegou até a dizer que chamaria a polícia...Que humilhação!— Mas não faz muita diferença. — Comentou Leandro, sem demonstrar emoção.Marília mordeu os lábios e murmurou:— Mas você nem precisava ter se casado com
Depois de receber a ligação, Adalberto chegou logo atrás de Raulino.Assim que se sentou, Raulino brincou:— Quando você era solteiro, a gente mal te via duas vezes por mês. Agora que casou, está aparecendo mais do que nunca. Parece que essa lua de mel não foi lá essas coisas, hein?Leandro lançou um olhar irritado para ele:— Dá para parar de tagarelar igual a uma mulher?Raulino fez uma pausa.Ele se virou para Adalberto:— Eu não falei? Aposto que levou um fora da esposinha mimada e chamou a gente só pra descontar a raiva. Que cara mais baixo nível, né?Leandro apertou os lábios, formando uma linha reta.— Se não quer jogar, pode ir embora.— Já que estou aqui, claro que vou jogar umas rodadas. — Enquanto embaralhava as cartas, Raulino continuou. — Mas vou te dizer, tô mesmo curioso. Lembro que a Marília não tinha lá um temperamento fácil... Ela infernizava a Helena. Você chegou até a defender a Helena, e a Marília te mordeu, lembra? Você não a detestava? Como é que agora tá todo ap