A sexta-feira amanheceu com um frio cortante, desses que obrigam a gente a encolher os ombros sem perceber. Isadora acordou antes do despertador e ficou alguns minutos olhando o teto, ouvindo os ruídos do prédio: a água nas tubulações, passos no corredor, uma porta batendo ao longe. Não era mais o medo que a mantinha desperta, e sim a expectativa. Naquela noite, aconteceria a feira cultural do bairro — barracas de editoras independentes, música ao vivo, autores locais lendo trechos dos livros. A livraria teria uma banca do lado de fora. Era o tipo de lugar que Gabriel adorava frequentar quando queria parecer “do povo”, e Isadora sabia que ele poderia aparecer.
Levantou, esquentou água no fogareiro elétrico e preparou o café simples. Sobre a mesa, a pasta plástica estava pronta: boletim de ocorrência impresso, cópia da resposta do jurídico da rede, prints das mensagens, o pendrive com as imagens da livraria e os clipes da câmera da cafeteria. Passou os olhos pelo conteúdo como quem con