O sol de Montserra parecia mais quente do que o normal naquela manhã. Mas não para Helena. Dentro do carro, com os vidros fechados, o ar-condicionado soprava frio, na mesma temperatura do seu coração naquele instante.
Ela ajeitou os óculos escuros no rosto e olhou, pela janela, para a fachada da empresa da família Ferraz. O mesmo lugar onde ela passou anos dando tudo de si, sendo tratada como invisível, como se sua existência fosse um favor que os outros lhe faziam.
— Pronta? — Júlia perguntou do banco do passageiro, encarando-a com um sorriso cúmplice.
Helena respirou fundo, retirou os óculos, e seus olhos brilharam com a força de quem não tem mais nada a perder.
— Mais do que nunca.
Elas desceram do carro. Cada passo que Helena dava ecoava em sua própria mente como uma declaração: “Nunca mais vão me humilhar.”
Ao entrar na recepção da Ferraz Engenharia, todos os olhares se voltaram para ela. Alguns de surpresa, outros de desconforto. Afinal, até pouco tempo, Helena era só a filha es