GUERRA DE SANGUE
Na Guiana Francesa, o ventilador, que antes chiava, agora emitia um ronco contínuo, quase uma litania mecânica que marcava o tempo num ritmo delicado e persistente.
Clarice se deitou de lado, usando um travesseiro baixo, como sempre fizera desde que decidiu viver de forma discreta — longe dos holofotes, das culpas, e das expectativas de um mundo que sempre exigiu mais dela do que estava disposta a oferecer.
A brisa que entrava pela janela trazia o aroma úmido do rio Oiapoque misturado a folhas amassadas e terra molhada. Era um perfume agridoce que evocava lembranças de um tempo em que rira mais, antes que o poder e o orgulho se tornassem vícios disfarçados de instinto materno.
Alguém riu na rua, alguém bateu uma porta.
Mas o nome dela — o nome verdadeiro dela — não foi dito.
E, naquele silêncio, Clarice encontrou consolo.
O anonimato era o último luxo que a vida lhe concedera.
Lembrou-se da coletiva, do asse