Clarence
Eu caminhei devagar entre as baias como quem entra numa igreja em silêncio. Um coro de miados miúdos vinha de uma caixa de madeira, e foi ali que eu parei. A mãe — magrinha, pelagem cor de mel manchada de branco, olhos de um âmbar manso — amamentava cinco filhotes que brigavam por espaço como pequenas ondas batendo no mesmo cais.Respira, Clarence. Escolher é recomeçar.A voluntária se aproximou, sussurrando como quem não quer assustar: — Ela foi resgatada prenhe. Pariu aqui, faz uma semana. Os bebês vão bem. A mãe é dócil, mas… adulta com cria é mais difícil de adotar.Eu me agachei. A gata ergueu os olhos para mim e não recuou. Só moveu o rabinho devagar, aquele gesto miúdo de quem aceita companhia. Estendi a mão e ela encostou o focinho, cheirou, fechou os olhos um instante. Confiança. Eu sei reconhecer.— Qual é o nome dela? — perguntei. — Ainda não tem. Chegou sem identificação.— Vai ter. — eu disse, e senti uma fi