A brisa salgada da manhã invadia o quarto de hotel em Nice pelas grandes janelas abertas. Camila observava o mar azul-cobalto com os olhos perdidos no horizonte, mas sua mente estava a mil quilômetros dali — no passado, no presente, em tudo o que estava prestes a ruir.
Atrás dela, Alexandre dormia, ou fingia dormir. A noite anterior fora uma mistura de explosão e silêncio. Não havia sobrado espaço para palavras entre os dois. Apenas toques. Desejo. E um vazio que os aproximava tanto quanto os afastava.
Ela se vestiu lentamente, prendendo os cabelos em um coque apressado. Estava farta de correr atrás de respostas que só geravam mais perguntas. Precisava pensar. Precisava de distância.
Mas antes de sair, sua mão tocou no envelope sobre a mesa de cabeceira. Alexandre havia deixado ali, sem dizer nada. Dentro, fotos antigas. Cenas de sua mãe ao lado de Rodrigo Alencar Monteiro. Beijos roubados, risos congelados no tempo. Uma delas mostrava Letícia grávida, sentada num banco de madeira em