Alicia passou o batom com mãos trêmulas. O reflexo no espelho devolveu a imagem de uma mulher dividida entre o que devia e o que sentia. O vestido leve que usava parecia pesar toneladas. Sentia o estômago apertado, os ombros tensos, a respiração presa no peito.
— Vai dar tudo certo — sussurrou para si mesma, tentando acreditar.
João já esperava do lado de fora do apartamento. Usava uma camisa azul, os cabelos grisalhos penteados com cuidado, mas seu semblante carregava uma angústia que não conseguia disfarçar. Alicia abriu a porta e o encarou. Por segundos, os dois permaneceram imóveis, como se aquele momento fosse um último respiro antes da queda.
— Pronto? — ela perguntou, sem muita firmeza.
— Nunca estive tão longe de estar pronto — ele respondeu com honestidade. — Mas é agora.
No interior do apartamento, Roberto terminava de arrumar a mesa. O aroma do jantar que preparara tomava o ar, mas a inquietação em seus movimentos denunciava que sua mente não estava no vinho, na comida, nem