Dez anos se passaram desde o dia em que Alicia, Roberto e João assinaram juntos a certidão que reconhecia oficialmente o que o coração deles já sabia há tempos: eram uma família. Completa. Inusitada. Real.
A casa onde viviam era outra — não porque haviam se mudado, mas porque o tempo tinha deixado suas marcas boas. A varanda agora era coberta por trepadeiras floridas, um balanço de cordas e madeira pendia de uma árvore robusta no quintal, e os risos infantis ecoavam como trilha sonora constante.
Pietro tinha doze anos e era a mistura viva dos três. Herdara a sensibilidade de Alicia, o senso de justiça aguçado de Roberto e a serenidade encantadora de João. Estela, com nove, era pura luz, como o nome que Pietro escolheu quando ainda era uma criança. Tinha olhos atentos ao mundo, perguntas afiadas e uma forma de abraçar que desarmava qualquer dureza.
Aquela manhã de sábado começara com cheiro de café e bolo de laranja saindo do forno. Alicia andava pela cozinha descalça, os cabelos mais