— BYANKA

Novamente essa palavra mílaya, bufo com o quão ingênua eu pude ser quando o conheci por pensar que esse homem sem coração poderia realmente sentir algo por mim que não fosse apenas um contrato, um acordo entre homens que ele tinha que cumprir.

Ele passa a mão com raiva pelos seus cabelos lisos e loiros, tão claros que em um dia de neve se misturam ao fundo, os mesmos cabelos que minha irmã estava puxando a minutos atrás antes de pegar os dois no quarto onde ela deveria estar dormindo.

Me arrependo amargamente de ter feito essa viagem em família, tudo que eu queria agora era simplesmente sumir, evaporar dessa casa, dessa cidade e desse maldito país!

— O que está acontecendo, Byanka? — A filha da puta aparece no portal da cozinha como se tivesse sido invocada com apenas um pensamento meu e com a cara mais lavada possível.

Não consigo me controlar e me lanço em sua direção com toda a raiva do mundo, dou um tapa forte em seu rosto que a faz tropeçar e cair sentada no chão, ela leva as mãos ao rosto com choque e seus olhos se enchem d’água como se ela tivesse algum direito de chorar aqui, eu avanço para mais, mas sinto braço grossos me rodearem e sou puxada para trás.

— COMO VOCÊ PODE? — Dimitry grita para mim me jogando de lado como se eu fosse algum brinquedo velho que ele descartou por algo mais interessante, ele corre para se ajoelhar ao lado da minha maldita irmã, para verificar o seu estado, a porra do estado dela quando a pessoa que foi ferida fui eu! 

Eu queria poder dizer que não dói, mas a traição deles queima como uma ferradura em meu peito.

Olho para a cena com os dois agachados no chão e as peças começam a se encaixar diante dos meus olhos, isso tudo não é apenas um caso de uma vez, eles não estavam apenas com tesão. 

— Há quanto tempo? — eu pergunto com a voz dura, mas ninguém me dá atenção. 

— Ai Dimitry doí tanto, eu já me desculpei com ela, você viu! Eu apenas deixei o calor do momento falar mais alto, tudo não passou de uma brincadeira. — Aleksandra diz com a voz chorosa que me dá vontade de vomitar.

— Eu sei que nenhum de nós fez isso por mal, não foi com a intenção de que isso realmente acontecesse, era pra ser só mais uma brincadeira, mas acabou acontecendo sem querer. — ele diz consolando-a.

— Realmente, uma brincadeira — eu digo com sarcasmo — foram brincar de esconde, esconde e você acabou tropeçando na pica dele e a escondendo.

— Pare com esse linguajar Byanka! Não seja tão baixa, eu já mandei você deitar e parar com essa histeria, não é hora e nem momento para isso. — Dimitry me repreende.

Solto uma gargalhada porque essa só pode ser a piada mais fodida que eu já ouvi em toda minha vida, como sempre uma mulher sendo resumida como louca por um homem que a traiu e a história de centenas de mulheres se repete mais uma vez.

— Vocês realmente não vão reconhecer que são malditos filhos da puta, certo? Que estão agindo pelas minhas costas a mais tempo do que eu possa imaginar. — eu pergunto baixo e eles não fazem a mínima questão de me responder, Aleksandra está em prantos ao chão como se ela tivesse o direito, como se ela fosse a vítima de alguma injustiça e Dimitry a abraça e a consola enquanto sussurra palavras quentes em seu ouvido, coisa que nunca fez comigo. 

Como pude ser tão burra? Como me apaixonei por um homem que nunca me olhou assim como ele olha para a minha irmã, como não percebi esses olhares todas as vezes que eles interagiam? Como pude não notar o que estava diante dos meus olhos o tempo inteiro? 

E essa foi a primeira vez que o amor me destruiu, amor não, a ilusão de amar e ser amada.

Descobrir isso desperta uma fúria em mim que eu nem sabia que era capaz de ter, eu avanço em direção ao fogão e pego a panela mais pesada que eu aguento carregar, eu quero matar os dois por terem me traído assim, as duas pessoas que eu mais confiei em minha vida foram as que mais me magoaram.

Quero ver o sangue dos dois pintando todo esse mármore branco na minha nova cor preferida: vermelho sangue.

E tudo acontece como se eu estivesse possuída, a Byanka amorosa e risonha morreu para eles, eu só desejo ver a sua dor e lamento, quero que todos os seus malditos sonhos de finais felizes sejam destruídos.

Me movo pela cozinha sem perceber o que estou realmente fazendo, meus olhos examinam cada objeto até encontrar algo que seja dramático, vergonhoso e cause estrago.

Uma panela grande e cheia de solyanka, meus olhos brilham ao vê-la e vou em sua direção para pegá-la, é um pouco pesada mas a força do ódio mantém meus braços firmes e ágeis.

 Volto em direção aos dois que continuam sem prestar a mínima atenção em mim e me aproximo o máximo que posso sem que eles percebam, estico meus braços e jogo a panela com solyanka com toda a minha força na cabeça do meu ex noivo, o som de CRAC é alto e eu olho para os dois como se tudo acontecesse em câmera lenta, a testa de Dimitry se abre e sangue começa a escorrer do lugar onde acertei com a panela, ele não tem tempo de reagir ou de dizer qualquer coisa, ele apenas cai de cara no colo de minha irmã como ele estava a pouco tempo atrás.

Os dois pintados de molho vermelho, como eu queria, todo o branco imaculado da cozinha foi destruído, vejo que fiz barulho suficiente para atrair a atenção dos guardas e sei que em pouco tempo o caos vai se instaurar ao meu redor e é exatamente o que eu quero para eles a partir de agora, apenas destruição e caos, apenas o vermelho.

Minha irmã solta um grito assustado quando finalmente sai do estado de choque e volta a si, ela cutuca o corpo desacordado de Dimitry e só então eu percebo o que eu fiz.

— O que você fez Byanka? Eles vão te matar! — ela diz com a voz chorosa enquanto começa a gritar por socorro.

E então minha ficha cai, me afasto um passo da poça de sangue que começa a se formar e olho novamente para o corpo de Dimitry.

EU ACABEI DE MATAR COM UMA PANELADA A PORRA DO EXECUTOR DA BRATVA.