Clara deixou a mansão Avelar ao entardecer, com passos leves, mas pensamentos pesados. O dia fora cheio de pequenas tarefas, mas também de grandes silêncios. Aqueles em que a alma fala mais do que os lábios. Entrou no carro e, ao ligar o motor, não teve coragem de ir para casa direto. Pegou uma rota mais longa, contornando a beira do lago da cidade, onde a luz refletida nas águas lhe trazia alguma paz.
Ela estacionou sob uma árvore antiga e abriu os vidros. O vento fresco da noite entrou e, com ele, um vácuo no peito. Pela primeira vez em muito tempo, Clara se perguntava se havia um espaço real para ela naquela história. Um espaço que fosse só dela, e não de sobra.
Lembrou-se da conversa com Eveline. Do carinho. Da sinceridade. E também da permissão silenciosa que a amiga lhe dera para deixar o coração florescer, se quisesse. Mas ainda assim, sentia o peso de um limite. De uma história que não era sua por inteiro.
Seu celular vibrou no banco ao lado. Era uma mensagem de sua mãe:
"