Nicolo Moretti
Empurro a porta pesada. Ela se abre com um gemido, revelando uma escuridão ainda mais profunda. O lugar fedia a mofo, poeira e o cheiro doce e metálico do sangue. A poeira…
Minha ragazza e sua rinite. Lembro-me das crises que ela teve no Cairo, o quanto ela sofreu com o ar empoeirado. Uma pontada de culpa aguda me atinge. Eu não a protegi melhor do nosso mundo, e agora está aqui em outro lugar empoeirado.
— Ragazza? — chamo, minha voz, um fio de esperança na escuridão.
Ouço um gemido. Baixo, cheio de dor. É o suficiente.
Começo a descer os degraus de pedra, escorregadios e irregulares. Vincenzo está ao meu lado num instante, ele risca um fósforo varrendo a escuridão.
— O meu pai está com o Mário — ele informa, sua voz ainda tensa, mas agora contida. — Como você está? — pergunta, e o seu olhar no escuro é de genuína preocupação.
Olho para ele e, pela primeira vez, vejo-o não como um Caccini, não como o irmão da minha mulher, mas como um aliado. Alguém que, no fundo, tamb