Nicolo Moretti
A fenda, no entanto, não era larga o suficiente para dissipar a névoa de abutres que nos esperava. Não queria falar com ninguém. Nem com Caterino, cujos passos apressados podia ouvir se aproximando em nossas costas, nem com os jornalistas famintos por um pedaço do meu sofrimento, amontoados atrás de uma barreira à entrada do cemitério.
Mas Paula, com a sua fratura maldita, movia-se como se o chão estivesse minado, cada passo cauteloso e doloroso. A sua lentidão era um convite para a intrusão que tanto detestava.
— Está com dor? — perguntei, pela segunda ou terceira vez, quando a vi contrair o rosto ao apoiar o pé.
— Doe um pouco, mas acho que é porque estou pisando em falso pelas pedras… — respondeu, a voz um fio de paciência.
Olhei para baixo. O caminho de acesso aos carros era pavimentado com pedras irregulares, traiçoeiras mesmo para quem tinha dois tornozelos bons. Um acesso de merda, pensei, com raiva irracional do arquiteto que o fizera assim. A nossa lentidão era