Paula Moretti
Olhei-me uma última vez no espelho do quarto. O reflexo mostrava uma estranha: uma mulher com a maquiagem de noiva ainda impecável, um vestido azul-anil simples que contrastava com a bota ortopédica grotesca no meu pé, e olhos que já haviam testemunhado demais para uma só vida. Um pressentimento pesado, como uma pedra no fundo do meu estômago, insistia que eu não deveria descer. Mas a alternativa de ser “arremessada pela varanda” era consideravelmente pior.
Toquei o tecido do vestido. Vincenzo o trouxera para mim da Grécia em uma de suas viagens, o lugar de deuses e mitos, de liberdade. Um destino que eu provavelmente nunca veria, a menos que conseguisse sobreviver àquela noite. A garantia de ser a “Donna desta casa”, dada por Nicolo, não valia o ar que ele usou para pronunciá-la.
Títulos em nosso mundo são tão frágeis quanto a lealdade entre inimigos.
Uma coisa eu tinha que admitir, mesmo com um amargo gosto na boca, por mais bruto que ele tivesse sido, Nicolo não me vi