A Resposta Silenciosa. Capítulo 35 
Fora do prédio, o ar parece mais frio. Roberto encosta as costas na parede de concreto, a gravata solta, a camisa desalinhada. Com o lenço branco ele esfrega o canto da boca, o pano sai tingido, úmido. O gosto do metal ainda lhe queima a língua quando lambe os lábios.
Ele passa a palma da mão pelo rosto, espalha o sangue com o polegar, como se pudesse apagar o sinal do golpe. A vergonha aperta o peito dele e a respiração fica curta. A raiva, porém, não é mais explosiva, isso não funcionou muito bem. Os olhos, estreitos, vasculham a rua, cada sombra vira uma possibilidade, cada rosto desconhecido, um aliado em potencial.
“Aquele moleque...” Ele repete o nome sem dizer, mordendo o interior da bochecha até sentir o gosto salgado do ferimento. As palavras saem atravessadas, sem som. Os punhos se fecham até as juntas ficarem brancas. O corpo dele treme numa linha fina entre frio e ódio.
Roberto avança dois passos em direção ao prédio, o som seco do couro arranhando o cimento molhado quebra