Christine Conway
Me olho no espelho com o cenho franzido ainda analisando o vestido superjusto que minha amiga me emprestou. Como as pessoas conseguem respirar em uma coisa dessas? Estousentindo meus peitos sendo exprimidos e minhas cintura que não é tão fina assim ser marcada pelo tecido vermelho.
Não posso negar, o vestido é lindo, até parece de grife, nemdá pra acreditar que Emma o comprou numa loja de desapegona cidade vizinha.
— Emma, acho melhor a gente arranjar outro vestido, esseestá acabando comigo. Eu mal consigo respirar direito — faloolhando para o seu reflexo. Ela está linda em um vestidobrilhante que vai até a metade das suas coxas bronzeadas.
— Nem adianta reclamar. Esse vestido ficou ótimo em você, isso se chama falta de costume — reviro os olhos mesmosabendo que talvez ela tenha razão. Desde a gravidez eununca mais usei roupas tão ousadas ou justas, meu corpomudou muito depois do parto.
Sem contar que não tenho mais opção nenhuma de vestido. Jábasta o dinheiro que vou gastar pra comprar uma roupa e saltos decentes para ir a festa de reencontro de ex alunos. Então acho que esse vestido vai ter que servir.
Emma me chamou pra ir num barzinho, não o bar do restaurante onde eu trabalho. Um lugar que seja mais aceitávelao nosso orçamento. Eu tive que aceitar, ela acabou me convencendo com uma boa chantagem emocional.
Coloco minhas únicas sandálias de salto e coloco uma jaquetade couro preta por cima, apesar de ser uma cidade quentedurante o dia, as vezes as noites são meio gélidas em Sutter.
Meus filhos ficaram com meus pais, e não sei que argumentosa Emma usou pra convencê-los que a gente está saindo para ter uma simples noite de meninas.
Meus pais podem até amar meus filhos, mas nunca vãoperdoar a filha fracassada que eles tem. E para o meu azar, sou filha única, ou seja, as expectativas na minha pessoa eramgrandes.
Saímos de casa e vamos até o bar no carro da Emma, acheimelhor a gente não confiar na minha lata velha.
Entramos no simples bar de decoração rústica, uma músicacountry toca nas caixas de som, tem pessoas para todos oslados, rindo, conversando e bebendo.
Nos sentamos numa mesa e Emma pede duas cervejas.
Nesse momento não vejo a necessidade de ter me arrumadotanto. Mas gostei desse lugar, é bem aconchegante.
Pelo menos posso beber, já que amanhã é domingo e é dia da minha folga no restaurante.
Depois de alguns minutos o garçom trás duas cervejas e maisduas porções de batata frita e camarão com potinhos de queijo cheddar pra acompanhar.
Tudo bem, eu estou gostando de estar aqui. Ser mãe e ter umavida adulta conturbada me deixou sem espaço pra fazer o que eu mais gostava na adolescência, que era dançar e me divertir. Fico feliz em descobrir que essa pequena parte de mim aindanão morreu completamente.
Depois de duas cervejas e algumas batatas dois caras se aproximaram da nossa mesa e começaram a puxar papo, eu sóagradeci pelo fato de serem da cidade vizinha, porque aqui emSutter os homens já conhecem a filha desonrada e mal estudada dos Conway. E pela primeira vez em muitos anosfico feliz em conversar com pessoas que não conhecem o meu passado ou a minha vida para que possam me julgar.
Se eu me mudasse daqui para uma cidade maior eu nãopassaria por tudo isso, mas a vida nas grandes metrópoles nãoé fácil, principalmente com duas crianças, aqui em Sutter jápasso o maior sufoco pra me manter e manter aquelas duas pestinhas que mais amo nesse mundo todo, imagina numacidade grande como Nova Iorque, que fica no outro extremo do país, ou Los Angeles aqui na Califórnia.
Suspiro e volto a prestar atenção nos rapazes que nos contamsobre suas aventuras nas ondas, eles são surfistas então ficamo tempo todo viajando de um lugar para o outro, não só aquinos Estados Unidos como também na Europa.
Eu e minha amiga ouvimos tudo com atenção, afinal de contasnunca iríamos para esses lugares mesmo.
Num dado momento me sinto aflita pra ir no banheiro, porisso peço licença e saio em direção ao banheiro, enquantocaminho tento ver se pelo menos eu trouxe um lenço de papelpra me limpar depois de usar o banheiro, essas bolsaspequenas são impossíveis de levar tanta coisa.
Sorrio quando finalmente acho o saquinho de lenços mas elesimediatamente caem no chão quando esbarro em alguém.
— Sinto muito...
— Desculpa — falamos ao mesmo tempo. Recolho os lençose tento os arrumar.
— Christine — levanto os olhos e me deparo com uma lindamulher, quer dizer elegante e linda mulher. Olho atentamentepara o seu rosto e algo me diz que a conheço de algum lugar. Lembrei, quem é ela.
— Riley — tento sorrir, mas como você pode sorrir quandodepois de tantos anos fica diante da irmã do menino cujocoração foi partido por você, que por sinal era a melhor amiga dele. Queria encontrar um buraco bem fundo agora e me esconder. Engulo em seco e continuo:— já já faz muitotempo.
— Sim, dez anos para ser mais exata— quando Simon foiembora a irmã devia ter uns quinze anos na época. Depoisparece que ela também foi embora para estudar em outracidade. Mas pelo que sei, os pais continuam na cidade, mas poucas vezes os vejo, já que frequentamos espaços diferentes, a não ser o meu trabalho, onde por acaso eles costumam irjantar só eles dois.
— Sim. Então tudo bem? — Não é bem essa a pergunta que eu queria fazer, mas acho que também serve.
— Sim tudo bem. Não imaginava te encontrar aqui — ela falagesticulando.
— É a primeira vez que venho. Estou com uma amiga alinaquela mesa — aponto para onde Emma conversa animadamente com os caras. Que tipo de assunto se conversa com alguém que não se vê a anos?
— Foi bom te ver de novo — assinto e ela sai andando emdireção ao que imagino ser o grupo de amigos dela.
Nossa! Fiquei tão tensa que até meu xixi congelou na bexiga.
Saio do banheiro após alguns minutos e volto pra mesa.
O papo está a todo vapor e no final da noite me sinto satisfeitapor ter conseguido aproveitar.
Amanhã de manhã eu vou buscar as crianças, por isso assimque chego em casa me livro das sandálias e do vestidomalditamente justo e sufocante.
Atualmente não estou dentro dos novos padrões estabelecidospelas donas da beleza, o tamanho dos peitos e dos quadris nãoajuda muito também.
Tomo um banho e coloco um camisetão. Quando deito nacama apenas sinto uma coisa.
Paz.
Sem crianças gritando. Nem eu mesma gritando mandandotodo mundo ir dormir. Sem preocupações em ter que colocar o despertador pra me despertar cedo.
Fecho os olhos e apenas me entrego ao sono e ao cansaço.