CAPÍTULO 02

Simon Donavon 

Nova Iorque

Analiso uma das propostas de meus arquitetos enquanto faço algumas anotações sobre o que precisa ser melhorado ou alterado. Todo e qualquer projeto antes de ser implementado passa por minhas mãos. Não importa se ele é de menor ou maior porte. Uma falha num pilar e teremos centenas ou milhares de vidas perdidas por causa de uma falha técnica. Por isso prefiro supervisionar tudo de perto sempre que posso. 

Minha construtora é grande, e está em processo de expansão pelo país, então o tempo fica muito apertado para dar atenção a todos. Mas faço tudo o que posso para garantir que meus clientes sairão satisfeitos daqui. 

De pensar que esse lugar era só uma ideia distante á dez anos atrás. Uma ideia que se tornou sólida graças ao meu esforço nos estudos. 

Depois que saí de Sutter eu me entreguei aos estudos para me tornar o melhor em tudo. Tive as melhores notas na faculdade, os professores viram o meu empenho e com isso eu comecei a abrir as portas para minha carreira. 

Terminei minha graduação e comecei a estabelecer uma pequena empresa sozinho, empresa é uma forma de dizer na verdade. Porque eu só tinha um computador, um nome e o bom currículo. Enquanto trabalhava no desenvolvimento da minha empresa eu fiz meu mestrado em engenharia sustentável. 

Com o tempo e o número dos clientes, consegui alugar um andar num dos melhores prédios da cidade, já empregava mais de dez pessoas e já tinha uma boa margem de lucro pra aumentar ainda mais a empresa. 

O fato de ser uma construtora virada para projetos que sejam na sua maioria sustentáveis aumentou ainda mais o nosso espaço no mercado. E hoje temos nosso próprio edifício em Nova Iorque, centenas de funcionários e um reconhecimento mundial. 

Ano passado recebemos o prêmio de melhor grande empresa inovadora. E o número de prêmios não para por aí, e nem pretendo parar por aí. Ainda vejo minha construtora em outros países do mundo todo. Só preciso me focar nos meus objetivos que tudo isso será mais fácil. 

Diferente de muitos jovens da minha idade que só pensam em se divertir e se distrair de formas banais, eu prefiro ocupar meu tempo fazendo algo útil. Obviamente que também gosto de uma boa noite de curtição com direito a bebida alcoólica e sexo. Mas minha vida não é definida por isso, mesmo apreciando uma boa boceta. 

E na mesma medida que sou focado no trabalho, tenho completa aversão á compromissos. Quem sabe um dia eu pense em dar netos para os meus pais, mas por enquanto meu único foco é crescer no âmbito profissional. Talvez em alguns anos eu pense em me casar e toda essa merda. 

Acho que nenhum outro casamento chega a altura do casamento dos meus pais, e eu quero algo igual o que eles têm, e mal sei se algum dia chegarei a ter algo assim, mas enquanto esse dia não chegar viverei como o homem solteiro que sou. 

Olho meu relógio e constato que está quase na hora do almoço e hoje combinei de almoçar com meus amigos. Então arrumo a planta que estava analisando e caminho até minha mesa. Minha sala é enorme, porque queria exatamente evitar ter que me locomover pela empresa. Além de um escritório normal, também tem uma área de criação, que é onde crio e desenho meus projetos, tem uma mesa de reuniões com cerca de seis cadeiras e também um espaço que se parece com uma sala de estar e um mini bar. 

Coloco meu terno e ligo para o ramal da minha secretária. 

— Elizabeth por favor venha até minha sala — coloco o telefone de volta na mesa e termino de me arrumar. 

— Precisa de algo Simon?  — minha secretária como sempre competente. Quando Scarlett me indicou ela, achei que estaria contratando uma imprestável. Mas depois de uma semana, eu retirei o que eu disse. Elizabeth é uma ótima funcionária. 

— Eu vou sair pra almoçar. Qualquer coisa apenas anote que eu resolvo quando voltar e pode ir almoçar também — ela assente e sai da minha sala. 

Carrego minha mala e meu celular e vou em direção ao elevador. 

— Que grande milagre — levanto meus olhos e me deparo com meu melhor amigo na minha frente rindo. 

— Do que você está falando? 

— Do fato de você estar saindo no exato horário de almoço como qualquer outra pessoa  normal — eu entendo o ponto do James. Às vezes fico tão concentrado no trabalho que prefiro fazer minhas refeições no meu escritório. 

— Não enche. Você sabe que só estou saindo porque a Scarlett me ligou insistindo que devíamos sair para almoçar juntos porque ela tem algo importante para nos dizer — falo entrando no elevador. 

— O que será que ela quer nos falar? Será que quer nos contar sobre mais um de seus namorados? — James nunca superou aquela paixonite da adolescência que tinha pela Scarlett. 

— Provavelmente — falo sem nenhum dó e ele faz uma cara de alarmado — ou talvez queira apenas encher nosso saco e saber de nossas vidas. Você sabe como ela é fofoqueira. 

Eu e James saímos de Sutter juntos e para nossa surpresa a Scarlett estava na mesma Universidade que nós. Isso e aliado ao fato de virmos da mesma cidade pequena fez com que nos aproximássemos e nos tornássemos amigos. Scarlett trabalha com moda, ela tem uma loja de roupas e essas coisas de mulheres, o James atua como advogado da minha empresa para além de ter seus próprios clientes por fora, e eu, bom, sou um engenheiro e empresário. 

Desde a nossa saída de Sutter, James e Scarlett são os únicos que tem ido para lá visitar suas famílias, já eu prefiro que meus pais venham pra cá. Minha irmã mais nova também está trabalhando comigo, como arquiteta. Mas diferente de mim, ela passa mais tempo em Sutter do que aqui. Por isso resolvi abrir uma filial da construtora lá, apesar de ser uma cidade pequena, ouvi que muitos empresários estão se fixando lá por causa do turismo. 

E acho uma boa oportunidade para expandir o negócio. Mesmo aquele lugar não me trazendo  boas lembranças. 

Entramos no restaurante que já faz parte da nossa lista de preferência e pedimos um uísque enquanto aguardamos a chegada da dita cuja que se encontra atrasada como já é de praxe. Enquanto esperamos conversamos sobre coisas banais para descontrair um pouco do ambiente de trabalho. 

— Oi meninos — Scarlett e toda a sua aura de animação chegam juntos. Nós dois nos levantamos e trocamos beijos nas bochechas — preciso de de um vinho urgente para me refrescar. 

Chamo o garçom e peço a cartela de vinhos. Escolho o melhor vinho branco da casa. Quando as taças são servidas os três pedimos nossa comida. E em nenhum segundo a Scarlett para de falar. 

— Nova Iorque anda numa agitação irritante por causa da aproximação da semana de moda nova iorquina. Uma pena que não poderei participar desta vez. 

— E por que não? Você não é obcecada por esse assunto? — Pergunto. 

— É exatamente por causa disso que chamei vocês dois para esse almoço. Eu recebi convites para nós três — fala toda animada batendo palmas. Só espero que não seja para nenhum desses eventos de moda. 

— Que convites Scarlett? — Pergunto entre dentes — você sabe o quanto sou ocupado então se for encima da hora fale com a Elizabeth pra olhar minha agenda. 

— Deixa de ser chato Simon. Não é nada de mais. São apenas convites que recebi da nossa antiga escola de Sutter — eu e o James soltamos os garfos imediatamente para prestar mais atenção á conversa — como já devem ter percebido. Se passaram dez anos desde a nossa saída do ensino médio. A administração da escola está organizando um encontro de ex alunos para daqui a um mês. E claramente que nós fomos convidados. 

Não sei se fico feliz igual a Scarlett porque finalmente irei ver meus pais depois de um tempo se vê-los, ou se fico com raiva devido as lembranças que aquele lugar me trás. 

— E não adianta você falar que terá ocupações Simon. Porque ouvi a Elizabeth comentando que você está expandindo sua empresa para Sutter. E essa será uma ótima oportunidade de você vistoriar tudo de perto — olhando por esse ponto ela tem razão — por favor deixa a Elizabeth vir com gente também. 

— Eu não sei Scarlett — falo analisando os prós e contras internamente. 

— O que foi Simon, está com medo de reencontrar sua melhor amiguinha? Você sabe,  aquela que você odeia mencionar o nome? 

É instintivo, aperto os punhos por de baixo da mesa me  lembrando dela. É assim toda vez que lembro dela, meu corpo contrai de raiva e uma vontade súbita de voltar ao passado e mudar as coisas toma conta de mim. Várias vezes revivo a burrice que foi a minha de cair no papo furado daquela vadia falsa. 

— Eu quero aproveitar o meu almoço sem vomitar. Então por favor não toque no nome dessa biscate. Tomara que ela não ouse aparecer nesse encontro, senão nem sei do que serei capaz — Scarlett também carrega um ódio doentio dela. 

— Desde que fui embora da cidade nunca mais ouvi falar dela. Eu nem mesmo a vi em todas as vezes que fui pra cidade — James comenta. 

— Não se engana. Ela continua lá na cidade pelo que soube da minha mãe. Com certeza ainda morando com os pais. Pelo que soube ela teve filhos  — Scarlett fala toda arrepiada. Ela detesta a ideia de ser mãe. Ela não suporta crianças. 

Ela teve filhos? Será que está casada? 

Isso não me importa. Mas essa ida a Sutter Será uma boa oportunidade para averiguar as coisas mais de perto, só preciso colocar um dos meus investigadores particulares para seguir todos os seus passos. 

— Tudo bem Scarlett. Você me convenceu. Eu vou pra esse tal encontro com vocês. 

Celine Conway

— Já falei para você que não irei pra esse tal encontro de ex alunos Emma — falo colocando o bolo de chocolate no forno. Desde o momento que ela chegou aqui apenas vive me insistindo de ir com ela pra esse encontro. Mas pra quê?

— Mas porquê não?

— Primeiro que eu tenho muito trabalho, e você sabe que eu trabalho todos os dias e domingo é meu único dia de folga. Segundo o que eu vou fazer nesse encontro para além de ouvir a trajetória da carreira brilhante de cada pessoa? E eu vou apenas falar que sou mãe solteira e que minha experiência no mercado do trabalho é como garçonete. 

Até já imagino cada um discursando sobre o local onde estudou, seus trabalhos ou empresas. Todas essas coisas que eu nunca vou ter, pelo menos não enquanto eu precise trabalhar que nem uma condenada para alimentar meus filhos. 

— Eu não vou desistir de convencer você — apenas dou de ombros e começo arrumando a mesa para o jantar. — Amiga, você é jovem, tem apenas vinte e sete anos. Merece sair pra se divertir e aproveitar a vida . Não ligue para o que as pessoas fofoqueiras dessa cidade andam dizendo. 

— Você sabe que não tenho esse luxo de simplesmente escolher onde ir — falo colocando o suco na mesa — além disso não tenho dinheiro pra ficar saindo como se não tivesse contas pra pagar. Tenho duas pessoas que dependem de mim Emma. Sem contar que quando chego do trabalho a única coisa que eu quero fazer é dormir. 

E por mais que eu queira pelo menos um dia voltar do trabalho e dormir, é impossível. Porque primeiro o jantar não vai se cozinhar sozinho e segundo com os gêmeos brigando por tudo e por nada. 

— Mãe cadê minha caixa de quebra cabeça? — Celine grita de não sei que comôdo da casa, imediatamente escuto o Christian gargalhada e dizendo que escondeu a tal caixa no porão. 

— Amiga eu sei que não deveria dizer isso, mas seus filhos são dois capetinhas adoráveis — ela ri da minha desgraça enquanto come os legumes. 

— Crianças venham jantar — os dois vem correndo discutindo  — chega vocês dois. 

— Mãe olha, achamos seu álbum de fotos lá em baixo — minha filha me entrega o álbum antigo e sai correndo para lavar as mãos. 

Esfolheio o álbum e logo na primeira página sou dominada pela melancolia de reviver o passado. Esse não é um simples álbum. É o álbum de melhores amigos. 

Um melhor amigo que eu machuquei e que foi embora me achando a pior pessoa do mundo. 

Continuo vendo mais fotos de quando éramos menores. Até que parei numa em que já éramos adolescentes de dezesseis e dezessete anos. Retiro a foto do interior da película protetora e meus olhos se focalizam na imagem daquele adolescente alto e franzino de cabelo loiro sorrindo para a câmera enquanto me abraça pelo ombro. 

— Quem é ele mãe? — Todos me olham curiosos. Emma apenas sabe uma parte da verdade. 

— Esse foi o melhor amigo que mamãe já teve. Eu chamava ele de fofinho — falo colocando a foto no nosso mural de fotos. 

— E onde ele está? 

— Ele foi embora porque eu magoei ele. E nunca mais vai voltar.

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