Christine Conway 

Quando acordei já passava das oito da manhã. Um horário que quase nunca tenho o privilégio de acordar. 

Sem perder mais tempo comecei com a faxina da casa. Preciso aproveitar a oportunidade. 

Ligo a televisão num canal aleatório pra me atualizar porque ébem possível que esteja chegando um asteroide no planetaterra e eu nem sei ainda, e vou limpando toda a casa, lavo a roupa, a louça, arrumo o quarto das crianças que levou quasetodo meu tempo e meu próprio quarto. 

Recolhi todos os lençóis sujos e os amontoei num canto e fuios substituindo por outros limpinhos e cheirosos. 

Carrego o monte de lençóis e saio do quarto  indo em direçãoa lavandaria. 

— Sutter nos últimos tempos está ganhando grande destaquede empresários de todo país. Está mais que confirmado, nossacidade irá receber uma filiar de uma das maioresconstrutoras dos últimos tempos — fala o jornalista todoorgulhoso — e o melhor de tudo, é que o proprietário é um exmorador da nossa cidade para além de apoiador de váriascausas que ajudam a desenvolver a nossa cidade.

— Monte de bajuladores. É só mais um que vai lucrar maisalguns milhões em uma cidadezinha — falo quando umafronha cai no chão e me abaixo pra pegar.

— Isso mesmo. Darry, Simon Donavon numa entrevista a New York times — eu olho hipnotizada para a imagem na TV, o Simon, em toda sua glória e beleza milionária está na TV falando com alguma jornalista que mais parece uma modelo, e ele lança um sorriso para câmara. Como se estivesse o lançando para mim, mas não um sorriso bom. 

Dou um passo em direção a TV mas caio com tudo no chãomachucando meu joelho.

— Que merda. — Murmuro me levantando, eu tropecei no monte de lençóis que seguro. E mesmo assim continuo olhando pra televisão. — Acorda Christine, deixa de sonhar. Você perdeu sua oportunidade, agora pode parar com isso e vai lavar a maldita roupa. 

Falo pra mim mesma. Com certeza ele sequer lembra de mim, estando em Nova Iorque e sendo milionário e ainda por cimabonito, com certeza não perderia seu tempo lembrando de um passado comigo. 

Desligo a televisão e volto ao trabalho, a casa não vai se limpar sozinha e a roupa não vai se lavar por conta própria. 

Depois de deixar a casa em condições aceitáveis eu fui tomarum banho e prepararei meu café da manhã. Não tem melhorcoisa do que fazer a primeira refeição do dia sem gritaria e ainda comendo o que eu quero. 

Mesmo comendo, organizo na minha agenda as próximasencomendas que algumas pessoas fizeram para durante a semana. E preciso arranjar um dia pra ir comprar o vestido pratão esperada festa. 

Hoje vou comprar para as crianças o vestido pode esperar. 

Saio de casa levando minha bolsa, o celular e as chaves do carro. 

Caminho até minha lata velha e vejo um dos vizinhospassando, ele mora num trailer do outro lado da rua. Mais um idiota que essa cidade criou, pelo menos não sou o únicofracasso da cidade. 

— Bom dia Christine — ele dá aquela risadinha nojenta que tanto odeio e continua seu caminho, mas antes de desaparecerele continua:— belos peitos. 

Filho da puta desgraçado. 

Entro no carro e sigo até a casa dos meus pais. 

Quando chego lá encontro todo mundo sentando na sala vendo filme. 

— Mamãe — os dois vem correndo pra me abraçar.

— se comportaram direito? — Os dois assentem e voltam a sentar no sofá. — Oi pai, mãe. 

Mando meus filhos irem arrumar as coisas pra gente ir.

— Ainda é cedo, porquê não vão depois do almoço?

— Eu prometi pra eles que a gente ia passear no shopping e tem algumas coisas que eu preciso comprar pra eles. Estãocrescendo muito — falo recolhendo um meia que está no encosto do sofá, e tenho certeza que é do Christian. 

— Soube que vai acontecer um encontro de ex alunos da Sutter high School. Você também foi convidada? — Eu sabia que essa coisa de festa não daria certo

— Sim pai eu fui convidada. — Falo consternada. 

— E você vai? — É minha mãe quem perguntou. 

— Eu vou sim. A Emma me convenceu — na verdade não sei se vou pela insistência da Emma ou simplesmente porqueestou curiosa demais em rever alguém que apesar de tudocontinua sendo muito especial para mim. 

— Não acho que você devia ir Christine. Todos geralmentevão para esses encontros para mostrar suas evoluções e suascarreiras — parece que minha mãe gosta de me ver mal. — Hoje mesmo vi na televisão que o Simon é um homem muitoimportante em Nova Iorque, até citado na Forbes e New York times ele já foi. 

— Já entendi mãe, não posso ir porque sou uma vergonha. A única evolução que tive foi uma barriga enorme e que se transformou em duas crianças. E minha carreira, nada mais é do que um simples trabalho como garçonete. Eu sei que nãosou o grande motivo de orgulho pra vocês, mas eu cuido dos meus filhos e nunca faltou nada pra eles, e nunca pedi nada pra ninguém. Nem mesmo pra vocês — Sinto as lágrimasqueimando meus olhos e minha voz embargada. Que merda— crianças vamos embora. 

— Christine — meu pai chama meu nome mas eusimplesmente saio da casa e entro no carro esperando meus filhos. 

O caminho inteiro até o shopping é feito em silêncio. Sei que provavelmente eles tenham ouvido uma parte da conversa com os avós. 

— Mãe porquê estava brigando com a vovó? Não gosto de vera senhora triste — minha filha pergunta enquanto olhamos  ospreços absurdos das roupas no interior das lojas. 

— Nada demais querida. Apenas vamos aproveitar que essasemana a mamãe recebeu muitas gorjetas e vamos comprar — Mesmo  sentindo uma dor absurda eu compro pelos menoscinco peças de roupas para cada um, sapatos e algunsbrinquedos. Obviamente que só compro brinquedos que eu sei que eles vão usar. 

Meu coração doeu quando passei o cartão? Claro que doeu. Mas prefiro que eles tenham roupas de qualidade, não porquesou pobre que meus filhos vão ficar andando por aí como se não tivessem nem onde cair mortos.

Tomara que durante a semana os clientes do restauranteestejam felizes. Porque estou precisando de mais gorjetas para comprar o vestido. 

Apesar de trabalhar num restaurante chique, uma gorjetasempre é bem-vinda. Aqui nos Estados Unidos é meio que obrigatório dar gorjetas. 

Depois de andarmos por alguns minutos vamos até a praça de alimentação. 

— Christine — me viro e me deparo com quem eu menosesperava — tudo bem querida? 

A mãe do Simon. Ela olha para meus dois filhos sorrindoainda meio confusa pelo fato dos dois estarem de mãos dadas comigo.