— Por favor, não faça isso. — Supliquei repetidas vezes, mas ninguém me ouvia. Por mais que eu me debatesse contra as amarras, não adiantava. — Eu sou a sua Luna! — Gritei, com todas as forças dos pulmões, mas como resposta obtive apenas o riso dele, vindo de outro cômodo, e isso destruiu toda a luta que ainda restava em mim. — Não façam isso, Luke... por favor... — Supliquei mais uma vez, com a voz enfraquecida.
— Mate a criatura, assim que isso acabar. Depois, joguem-na fora. Ela vai ter que sobreviver sozinha daqui em diante.
Ele não podia estar falando sério. Estava chamando nosso bebê de criatura?
— Mas... é nosso bebê.
— Não! É um erro da Deusa da Lua. Um erro que eu vou corrigir. — A voz dele ecoou novamente, do outro cômodo. Ele não tinha nem menos a decência de me encarar. — Façam como eu disse. É uma ordem.
— Sim, Alfa.
Tinha sido um erro ir até ali.
Tinha sido um erro entregar tudo a ele.
— Ah... Doutor? — A voz doce dela veio do outro cômodo. Era minha meia-irmã, Shannon. Cerrei os dentes. — Não use anestesia. Ela deve sentir tudo.
— Sim, Luna. — O médico voltou-se para mim com um olhar triste, mas quando pegou o bisturi, eu soube que estava perdida.
“Desculpa, meu bebê. Mamãe não conseguiu te salvar. Eu te desejei profundamente, tanto.” Tentei acariciar minha barriga, mas as enfermeiras haviam me amarrado. Quando o médico se aproximou, percebi que ele usava uma lâmina de prata.
— Prata? — Meu sussurro foi quase inaudível, mas ele assentiu. E, então, soube que Shannon não queria que eu sobrevivesse. Ela queria tanto tomar minha vida que mentiu dizendo que eu traí meu companheiro, mostrando fotos como “prova”. Mas eu nunca toquei em outro lobo. E nunca mais tocaria, não depois dessa traição.
“Por quê, Deusa da Lua, por que você me deu esse presente apenas para tirá-lo de mim? Meu filhote...”
Chorei em silêncio enquanto o médico cortava meu abdômen e senti o bebê se debater dentro de mim. Ele sabia que era cedo demais para nascer. Aquilo era uma sentença de morte para nós dois.
— Traga-me o corpo do filhote.
— Sim, Alfa.
Em silêncio, suportei cada corte enquanto o médico me abria, até que não aguentei mais e comecei a gritar. Em seguida, senti o sangue escorrer pelo meu corpo, gota a gota caindo no chão. Me debati contra as amarras, mas a prata me deixara fraca.
“Desculpa, bebê.”
Como eu esperava, eles não estavam tentando me manter viva... mas mesmo assim, doía aceitar. Eu amava meu companheiro, mas senti esse amor morrer quando vi meu filhote ser arrancado de mim.
— Por favor, deixe-me segurá-lo, só uma vez. — Tentei mover os braços para pegá-lo, mas ainda estava presa. Chorando, o médico trouxe meu filhote e o colocou sobre o meu peito.
Ele era perfeito. Esfreguei meu rosto no dele para que trocássemos nossos cheiros, assim, ele seria para sempre parte da minha alma.
A peça que faltava em mim.
— Doutor, traga-me o filhote, agora.
— Sim, Alfa. — O médico pegou o bebê e saiu apressado, deixando-me aberta e exposta sobre a mesa.
Eu sentia minha vida se esvaindo quando a porta se abriu e Shannon entrou. Seu sorriso arrogante era o mesmo de sempre, como se nada de anormal estivesse acontecendo.
— Eu te disse que tiraria sua vida, Amy. E que tomaria seu companheiro. Eu já o tive várias vezes, desde que ele descobriu sua ‘traição’. — Shannon se aproximou e depositou um beijo no meu rosto, enquanto eu rosnava. — Ele é perfeito. E não se preocupe. Vou dar outro filho a ele. — Então, ela pousou a mão sobre a própria barriga e eu comecei a rir. — O que é tão engraçado?
— Eu posso sentir o cheiro do Beta em você. Essa criança é do Derek. E é uma menina. Boa tentativa.
Ela rosnou e ergueu a mão, fazendo as garras crescerem para dar o golpe final, mas a porta foi arrombada e meu companheiro, o homem que agora eu mais odiava no mundo, entrou no cômodo. Seus olhos estavam vermelhos, e eu comecei a rir de novo.
— Sua vadia! — Ele rosnou e deu um golpe, lançando Shannon do outro lado da sala.
— Brandon! — Shannon gritou ao bater na parede. — O que houve? — Ela se levantou cambaleando, mas meu sangue continuava a se esvair, e fechei os olhos.
— Você mentiu! — Ele gritou, fazendo as paredes tremerem com sua aura, mas eu mal conseguia sentir. Senti a prata viajando pelas minhas veias, lentamente se aproximando do meu coração. — Era meu filhote. Eu sou capaz de sentir meu cheiro nele. Ele era meu. — Os olhos de Brandon ficaram ainda mais vermelhos conforme as lágrimas se acumulavam. — Você disse que ela me traiu e que o filhote não era meu.
— Mesmo que eu tenha me enganado sobre o filhote, ela traiu você!
— Você disse que sentiu o cheiro. — Mesmo de olhos fechados, pelos barulhos, eu soube que ele avançou contra ela de novo, mas a última coisa que vi foi que ele segurava nosso bebê nos braços. Mas desejei nunca ter visto aquela cena de arrependimento, afinal, foi ele quem fez isso conosco. Não Shannon.
Ela interpretou bem o papel, claro. Mas foi ele quem não acreditou em mim, que não aguentou esperar mais alguns dias para sentir o cheiro do filhote. Essa culpa era dele. E a nossa ruína também.
Rezei para que a Deusa da Lua me levasse. Eu não queria mais estar ali. Queria estar com meu filhote.
— Salve-a. — Ele rosnou para o médico.
— Não! — Shannon gritou. — Eu sou a Luna agora, você me marcou ontem à noite.
“Ah... então foi essa a dor que senti”, pensei. E a traição dele fez meu estômago se revirar.
— E estou carregando seu filhote. — Shannon completou.
Mais uma vez, comecei a rir e, com dificuldade, abri os olhos para ver meu companheiro, Brandon, que pairava ao meu lado.
— Fique comigo, Amy.
— O filhote dela é do Beta. Ela está transando... com o Beta. — Consegui dizer com esforço e ri, enquanto o horror se estampava nos olhos dele. Sangue saiu da minha boca, enquanto eu sorria mais uma vez.
— Salve-a. — Brandon ordenou, mais uma vez.
— Não! — Gritei, colocando todo o meu poder nisso. — Não se mexam. — Usei minha força de Alfa para congelar todos, inclusive meu companheiro.
— Como? — Brandon me olhou, suplicante. — Deixe-me te salvar.
— Eu sou descendente da Deusa da Lua, e você não merece me salvar. Não merece nosso filhote. Você foi fraco e agora perdeu tudo. — Sorri para ele, enquanto sentia minha vida se esvaindo.
E então, eu estava livre.