Capítulo 2
Abri os olhos e, para minha surpresa, ainda estava viva.

— Amy, anda logo, você vai se atrasar.

Me levantei num salto e olhei ao redor, confusa. O que estava acontecendo? Onde eu estava?

— Amy! — A voz chamou novamente, e eu sacudi a cabeça, afastando o sono.

Levantei da cama e olhei novamente em volta. Eu reconhecia aquele quarto. Era o meu quarto de infância. Porém, eu não pisava ali desde que tinha encontrado meu companheiro, Brandon.

Ouvi uma batida na porta e minha mãe a abriu. Mas, antes que eu conseguisse processar o que estava acontecendo, corri para os braços dela.

— Mãe, você está aqui. — Comecei a chorar. — Eu senti tanto a sua falta.

— Amy. Minha menina. — Ela riu, enquanto dava tapinhas nas minhas costas. — Sentiu minha falta? Nós nos vimos ontem.

Ela se afastou, e eu encarei seus olhos cor de âmbar, iguais aos meus.

— Feliz aniversário, querida!

Encostei meu rosto nas mãos dela e percebi que aquele era o último dia que eu tinha passado em casa. Afinal, foi no meu aniversário de 18 anos que encontrei meu companheiro.

— Obrigada, mãe.

— Espero que hoje você encontre seu companheiro e comece sua nova vida. — Ela sorriu para mim, e senti meu sangue gelar. Eu não queria encontrar Brandon. Não quando eu sabia o que ia acontecer.

— Eu preferia ficar aqui com você. – Sorri, beijando sua bochecha. — Não quero ter que sentir saudades, nem suas nem de Morgan.

E eu sabia que, um dia, Brandon pensaria que eu o traí e que, por isso, mataria ao nosso bebê e a mim... Ele também matou minha mãe por acreditar no envolvimento dela nessa suposta traição. O pai de Shannon, marido da minha mãe, viu ela morrer.

Não me entenda mal, eu sabia que ele amava minha mãe e que ele estava sofrendo, mas a filha ardilosa dele foi a causa de tudo isso e ele ficou parado, assistindo tudo acontecer.

Claro que eu entendia o motivo de ele apoiar a filha, mas eu não gostava disso. Também não gostava dele, para falar a verdade.

— Querida. Você não vai sentir saudades de ninguém. Estaremos com você, em cada passo do caminho. — Ela beijou minha bochecha, e eu entrelacei meus dedos nos dela.

— Mãe, a gente não pode só... fugir? Você e eu? Não podemos deixar Shannon e Morgan e voltar para a alcateia do papai?

Meu pai, o Alfa da alcateia Lua Prateada, não tinha sido um bom marido, mas era um bom homem. Ele tinha traído minha mãe e até mesmo a machucado quando estava bêbado. Porém, jurou que tinha sido um erro. Disse que fora a jogada de outro Alfa pra separar os dois, mas minha mãe dizia que não importava. Já era tarde demais.

A traição dele custou a vida do meu irmão, ainda dentro dela, e ela se recusou a seguir em frente.

— Não, querida. Eu não posso voltar. — O rosto da minha mãe se entristeceu, enquanto ela virava de costas.

— Eu não quero ser traída, mãe. Não como você foi. Nem de um jeito pior. Eu não quero um companheiro. — Sussurrei minha nova verdade.

— Companheiros não machucam uns aos outros, querida. — Ela tentou sorrir, mas eu tremi. Afinal, sabia exatamente o que companheiros faziam uns com os outros.

— Você ficaria brava se eu recusasse meu companheiro?

— Deus, claro que não, querida. A Deusa da Lua mostra o caminho, mas cabe a nós segui-lo ou não. Se você não quiser aceitar seu companheiro, pode rejeitá-lo.

— E se for o filho do Alfa?

Minha mãe me olhou. Ela sabia que, se fosse o filho do Alfa, eu estaria ferrada e que eles não me deixariam ir embora. Um Alfa precisa se unir à sua primeira companheira, mesmo que por um dia, para acessar todo o seu poder.

— O que você sabe e não quer me contar? — Vi os olhos dela analisarem os meus.

A puxei de volta para o meu quarto, para longe da porta.

— Eu não sei ao certo, mas estou apavorada que, se for o companheiro da Shannon, eu vou morrer depois de sermos marcados. Mãe, a chance de ele se ligar a uma Alfa é muito maior do que a de estar ligado à filha de um Beta. — Afastei-me, virando o rosto. — Eu não quero isso pra mim.

Ela refletiu sobre minhas palavras e vi que ela chegou à mesma conclusão que eu:

— Tudo bem, querida. Mas você não pode ir embora. Seria muito suspeito. Você vai ter que mascarar seu cheiro, sempre que ele estiver por perto.

Joguei as mãos pro alto.

— Como eu faria isso?

— Tem muita coisa que você não sabe e que eu preferia deixar no passado, mas se você tem certeza do que está me dizendo... — Ela parou e eu apenas balancei a cabeça, confirmando. — Então, deixe-me fazer algumas ligações. Você não precisa ir pra escola hoje.

Voltei correndo para os braços dela.

— Obrigada, mãe. Eu não sei o que faria sem você.

— Eu te amo, querida. Você nunca estará sem mim. Isso eu te prometo. — Ela beijou minha bochecha e então me deixou sozinha no quarto.

Corri até meu celular e chequei a data para ter certeza. Era 2018. Eu tinha voltado seis anos no passado. Seis anos, até o dia em que conheci Brandon. Eu poderia reviver tudo e fazer escolhas melhores. Eu poderia sobreviver, e talvez dessa vez, meu filhote também.

Acariciei minha barriga lisa.

— Não se preocupe, meu filhote. Dessa vez, ninguém vai te machucar. — Então, fui até o banheiro e entrei no chuveiro. Nem em sonho eu iria encarar aquele dia parecendo que tinha acabado de sair da cama.

Refrescada, eu estava dentro do closet, enrolada em uma toalha, tentando decidir o que vestir, quando ouvi a porta do quarto se abrir. Eu estava prestes a me virar e chamar por minha mãe, mas ouvi passos suaves de alguém se esgueirando, coisa que minha mãe não faria. Então, me escondi atrás dos casacos de inverno e esperei.

— Tô dizendo, se ela for a companheira do Brandon, eu vou matar ela.

— Você não pode estar falando sério, Shan. — a voz esganiçada de Megan, melhor amiga da Shannon, vinha do celular pressionado ao ouvido dela.

— É claro que estou. O Brandon é meu.

— Só porque você deu pra ele, isso não significa que ele vai se amarrar em você.

— Cala essa maldita boca, Megan. — Shannon rosnou, e seus olhos brilharam. — Ele é meu.

— Como você quiser. Eu preciso ir agora. Anda logo ou eu vou te deixar pra trás. — Megan desligou, e em seguida, um carro buzinou lá fora.

Shannon pretendia pegar alguma coisa no closet, mas eu agarrei a mão dela, dizendo:

— O que você pensa que está fazendo no meu closet?

— Amy? — Shannon arregalou os olhos e ficou de boca aberta.

Apertei a mão dela até ouvir um estalo, mas o grito dela foi abafado pela minha mão.

— Considere-se com sorte por eu ter só quebrado um dedo. Você acabou de ameaçar me matar? Eu ouvi bem? Uma filha de Beta ameaçando uma Alfa. — Me poupe.

— Eu não fiz nada! — Ela rosnou de volta, enquanto a mão dela se regenerava.

— Minta de novo e eu quebro todos os seus dedos e seguro enquanto os ossos se curam. — Não consegui conter o sorriso ao vê-la tremer. — Repita se você teve coragem de me ameaçar.

— Sim! — Ela gritou — Porque você vai tirar o Brandon de mim!

— Eu não quero nada com seu Alfa patético, nem agora nem nunca. Pode ficar com ele. — Eu a empurrei. — Agora saia do meu quarto antes que eu mude de ideia sobre te mutilar. — Depois, voltei a olhar minhas roupas e escolhi uma calça jeans de cintura baixa e uma regata.

— Qual é o seu problema?

— Você. Agora sai. — Deixei minha loba vir à tona e meus olhos brilharam. Então, empurrei meu comando de Alfa nas palavras, forçando-a a sair do quarto.

“Idiota. Como ela se atreve a entrar no meu quarto para pegar algo meu?” Minha loba rosnou baixinho. Aquele era nosso covil. Então, sacudi-me e me recuperei. Depois, fechando as portas, pulei de volta na cama e peguei o celular. Tentei me lembrar de tudo o que tinha acontecido naqueles últimos seis anos que pudesse ajudar no meu plano.

Porque pode ter certeza, Brandon e Shannon iam pagar.

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