POV KAEL.
O vento frio atravessou as frestas do casarão, uivando como um aviso.
O escuro da noite parecia refletir o que eu sentia por dentro, uma mistura de raiva, desespero e impotência.
O escritório do meu pai sempre teve cheiro de poder: couro envelhecido, café forte e o amadeirado do charuto caro que ele nunca deixava apagar completamente. O som do relógio de parede, compassado e impiedoso, me lembrava que o tempo nunca parava, e que para ele, sentimento era sinônimo de fraqueza.
Ele estava de costas quando entrei. As mãos apoiadas no encosto da poltrona, observando pela janela o lado de fora do casarão.
O reflexo do vidro o tornava quase uma sombra.
— Pai? — perguntei, cruzando os braços.
— Não me lembro de termos marcado uma reunião. — Ele respondeu sem se virar.
— Não — Respondi. — Mas é bom que tenha vindo. Precisamos conversar.
Quando finalmente se virou, o olhar dele carregava aquele brilho impenetrável, o mesmo que fazia os mais velhos da alcateia se curvarem sem questiona