POV VALENTIN.
O som do motor cessou diante do prédio espelhado da Tecnocare, e por um momento, o reflexo do meu próprio rosto no vidro me pareceu estranho.
Eu não era mais o mesmo que havia partido.
O exílio muda qualquer um.
Aprende-se o silêncio. Aprende-se a esperar. Aprende-se a sangrar por dentro sem deixar vestígios.
Desci do carro ao lado dos meus pais — meu pai, rígido como uma muralha; minha mãe, serena como quem entende o que está em jogo, mas ainda carregava no olhar o que restou de humanidade.
Eles vieram para consolidar o que já foi decidido. Eu, para cumprir o que o sangue exige.
O ar ao redor da Tecnocare estava denso, quase elétrico.
As pessoas nos observavam com aquele misto de respeito e medo reservado apenas aos que comandam — ou aos que podem destruir.
Mas não foi por eles que voltei.
Foi por ela.
Aurora.
O nome dela ainda tinha gosto de promessa.
Eu não devia pensar nela. Não devia sentir o que sinto.
Mas a verdade é que há coisas que nem o poder, nem a lealdade,