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Capítulo 4 – O Inferno Tem Vista Para o Paraíso

Barcelona. A cidade parecia uma pintura viva — fachadas coloridas, arquitetura ondulante, noites quentes que cheiravam a vinho e pecado. Mas eu não estava ali como turista. Eu era uma arma solta, afiada demais para viver em paz. Exilado por ordem direta de Marcello Mancini, o chefe da organização que me acolheu como um cão de briga. Um "prêmio" por fazer o trabalho que ninguém tinha coragem.

Tinha 21 anos. Corpo treinado, mente calejada, alma em ruínas. Já tirei tantas vidas que nem lembro mais o rosto da primeira. E, para falar a verdade, não me importo. O vazio dentro de mim só se preenchia com uma palavra: vingança. Israel Ravena. Eu sussurrava o nome dele como uma oração suja toda vez que o mundo silenciava.

Meu apartamento em Eixample era o retrato do luxo: paredes de vidro, vista para a Sagrada Família, móveis que custavam mais do que minha vida valia anos atrás. Dormia pouco. Quando não estava em missão, estava fodendo. A verdade é essa. Loiras, morenas, ruivas. Acompanhantes de luxo com risos falsos e bocetas depiladas. Sabiam o jogo. Eu pagava, usava e sumia. Clara sabia disso. Sabia que eu transava com outras. Sabia de tudo. E mesmo assim... me amava.

Clara. Filha de diplomata francês. Linda para caralho. Cabelos loiros, lisos como seda. Olhos azuis que pareciam céu de primavera, pele branca, sem um defeito. E o pior: ela acreditava em mim. Acreditava que eu podia amar. Não podia. Não, sabia. Ela não passava de uma distração momentânea. Um sopro de normalidade em meio à merda que era minha vida.

A conheci num evento idiota de empresários. Ela parecia deslocada, perdida naquele universo de taças e sorrisos plásticos. Me aproximei como um predador. Usei cada mentira, cada truque sujo. E ela caiu. Foi se encantando, se entregando. Enquanto ela falava de arte e futuro, eu pensava em sangue e vingança.

Às vezes ela acordava ao meu lado, o rosto sereno, a pele nua coberta só pelo lençol. Eu observava. Não porque sentia algo. Mas, porque me fascinava como alguém tão puro podia ser tão cega. A gente transava com frequência. Ela se entregava inteira, com os olhos cheios de amor. E eu? Eu só a fodia. Sem beijos. Sem carícias. Era tesão. Era posse. Ela me pertencia naqueles minutos, e só. O amor... esse não fazia parte de mim.

Lúcio, meu amigo de confiança, via tudo. E odiava. Pois ele amava Clara. Não dizia, mas eu sabia. Lúcio era o braço direito de Marcello, confiável como ninguém. Estávamos juntos desde minhas primeiras missões na organização. Era leal até os ossos, e por isso sua opinião ainda tinha algum peso para mim.

Certa noite, ele me encarou firme e disse: — Pedro, não brinca com ela. A Clara não é parte disso.

— Ela quis estar aqui — respondi, tragando o cigarro com tédio.

— Você pode acabar com ela. Ela não é tua vingança, porra. Não desconta nela o que Ravena te fez.

Fiquei em silêncio. Porque ele estava certo. Mas também porque... foda-se. Nada mais fazia sentido.

A verdade é que mesmo entre aquelas paredes caras, mesmo cercado de champanhe e prostitutas com mamilos rosados e corpos de deuses, eu ainda via o rosto do meu pai morto. A lembrança da minha mãe enlouquecendo. O cheiro da miséria. E tudo isso só alimentava minha sede de sangue.

Jantei com Marcello naquela semana. A casa dele em Vallvidrera era um palácio escondido. Fui recebido por Giulia, a esposa, com aquele ar aristocrático que escondia a podridão. Giulia era o retrato da elegância. Cabelos prateados impecavelmente presos, olhos escuros que pareciam ver através da alma. Ela me cumprimentou com um beijo leve na bochecha e um sorriso curioso.

— Pedro, finalmente. Marcello fala de você como se fosse um filho perdido — disse ela.

— Só perdido mesmo — retruquei com um meio sorriso.

— Um perdido valioso — ela rebateu, com um olhar carregado de segredos.

Lúcio também estava presente naquela noite. Sentei entre ele e Marcello na mesa de madeira maciça. Giulia nos serviu pessoalmente.

Comemos. Rimos. Falamos de morte como quem comenta o tempo. Ele me deu as rédeas do sul da Europa. Tráfico, armas, proteção. Um império do crime.

— Quero que você conheça meus aliados — Marcello disse. — São temperamentais. Mas você... você é mais frio que todos nós.

— Dê a ordem — respondi. — E eu executo.

Ele sorriu, satisfeito. Mas antes de encerrar o jantar, fez questão de olhar para Lúcio, depois para mim:

— E a garota? A Clara. Ela não deve ser uma distração, Pedro. Se ela não é o alvo da tua vingança, então mantenha distância. Não quero fraquezas.

— Clara não é nada — respondi. — Só uma pausa entre duas guerras.

Lúcio franziu o rosto, desaprovando. Mas Marcello apenas assentiu, satisfeito com minha frieza.

Clara apareceu de surpresa num dos galpões onde eu treinava. Me seguiu. Quis saber quem eu era. A segurei forte demais, o olhar ameaçador.

— Nunca mais faz isso. Isso aqui não é teu mundo. — minha voz foi uma sentença.

Ela chorou. Lúcio chegou. Tentou aliviar. — Vai com calma, Pedro. Ela é só uma garota apaixonada.

Naquela noite, procurei Clara. Pedi desculpas. Fodemos como sempre. Ela queria amor. Eu só queria esquecer.

— Pedro... — ela sussurrou, depois, com a cabeça no meu peito. — Você já amou alguém de verdade?

Fingi dormir. Porque a resposta era óbvia.

Lúcio veio no dia seguinte. Puto da vida. — Termina com ela. Se for para machucar, termina. Clara não é lixo.

— Ninguém é lixo, Lúcio. Mas todo mundo tem prazo de validade na minha vida.

Eu sabia. Ela não duraria. Nenhum raio de luz dura para sempre no inferno. E o meu inferno tinha vista para o paraíso. Mas continuava sendo inferno.

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