Capítulo 7 - A aposta.
Senti algo se partir dentro de mim. "Como amar o Finn podia ser algo miserável?"
— Me solta, Knox. — Pedi, com a voz trêmula. — Você pode não ser um bom irmão, mas eu sou uma boa amiga. Não vou ficar parada vendo meu amigo ser enganado mais uma vez. Vou até lá.
Knox não se moveu, mantendo a mão firme na minha cintura e o corpo completamente imóvel.
Com uma calma que só alimentava ainda mais minha raiva, ele disse:
— Não posso deixar você ir lá, Gatinha. E vou te segurar à força, se for preciso.
— Quem você pensa que é? — Disparei. — Você não tem o direito de me controlar, Knox. Me... Solta!
— Não estou te controlando. Estou impedindo que se humilhe... De novo.
Se minhas mãos estivessem livres, provavelmente eu já teria estapeado ele.
— Agora entendo por que o Finn quase nunca mencionou você nos últimos dez anos. Você é um idiota arrogante egocêntrico que só se importa consigo. Preferiria ver o próprio irmão ter o coração despedaçado do que levantar um dedo para impedir.
Os olhos de Knox escureceram, e por um instante juro que vi algo perverso brilhar neles.
— Essa é a questão, Sloane. O Finn gosta de ter o coração despedaçado pela Delilah. Ele gosta da toxicidade dela. É viciado nisso. A única pessoa que vê um problema em eles estarem juntos é você. Para de projetar seus sentimentos no Finn.
— Não é você quem vai me dizer o que fazer ou sentir, ainda mais sendo um 'ser amargurado' com o próprio irmão.
Knox sorriu.
— Pense o que quiser. Mas eu quero o que faz o Finn feliz. E, por mais que você não goste, isso significa a Delilah. Sempre significou. Sempre vai significar.
— Você me dá nojo.
— E o que exatamente você pode fazer quanto a isso, Sloane? Vai trancar ele numa prisão de segurança máxima no meio do oceano? Acorrentar no seu porão? O Finn sempre vai voltar para Delilah. Acha mesmo que é a primeira pessoa obcecada em acabar com esse romance ridículo? Abandona… Isso.
— Eu não consigo.
As palavras simplesmente escaparam antes que eu conseguisse impedi-las. Meu peito subia e descia em arfadas, o rosto queimava, e ali estava eu: uma idiota, sangrando por dentro por causa de um homem que, naquele exato momento, estava lá fora correndo atrás de outra.
No instante seguinte, Knox inclinou a cabeça, me analisando com os olhos de um predador que tinha acabado de encontrar a fraqueza da presa.
— Que tal fazermos uma aposta? — Sugeriu.
Semicerrei os olhos.
— Uma aposta?
— Se esse casamento acontecer entre a Delilah e o Hunter, eu deixo você em paz. Pode correr atrás do Finn até o fim do mundo, se quiser. Seguir ele como um cachorrinho devoto. Não vou mover um dedo pra te impedir.
— E se não acontecer?
Um sorriso lento e perigoso se espalhou no rosto dele.
— Se o casamento for por água abaixo... E vai, eu vou atrás de você, Sloane Mercer. Com violência. Não existirá um só lugar neste planeta onde consiga se esconder de mim. Vou ocupar sua mente, dominar seu corpo e tomar sua alma. Vou te arruinar para qualquer outro. Você não vai conseguir pensar, respirar ou dormir sem sentir minha presença em cada parte de si. Vou fazer com que apague Finn Hartley da sua memória. As coisas que eu poderia fazer com você... E as que eu ainda quero fazer…
Por um motivo estranho, o ar desapareceu dos meus pulmões. Virei o rosto, encarando novamente a janela, enquanto tentava entender por que meu corpo parecia em choque. Repeti para mim mesma que era ódio. Ódio bruto, ardente, que fazia meu corpo reagir daquela forma... Não desejo. "Não poderia ser realmente desejo."
Ainda assim, eu estava hipersensível a cada centímetro de espaço entre nós, como se nem houvesse tecido entre a pele dele e a minha.
Tentei me afastar, mas ele me puxou para mais perto, com os lábios roçando meu ouvido. Esse contato fez um arrepio atravessar meu corpo…
— Tudo que você precisa é de outra obsessão. — Sussurrou. — Algo para canalizar essa energia obsessiva toda. Deixa eu te dar isso. Deixa eu te dar um hobby, Gatinha... Um bem prazeroso.
E no fundo, eu realmente queria...
"Meu Deus.
O que havia de errado comigo?
Aquele era o irmão do Finn!" Eu não podia estar apaixonada por um e, de repente, me desmontar toda por outro. Mas meu corpo me traía, respondendo a ele de maneiras que nunca respondeu a ninguém.
— Você não pode fazer isso. — Murmurei, sem reconhecer minha própria voz. — Você é irmão do meu melhor amigo. Existe um código de conduta sobre essas coisas.
— Código? Dane-se seus códigos. — Respondeu. — Eu vejo o que quero e vou atrás. Ao contrário de você, que se apega em silêncio e deixa a vida passar. Isso é algo que vou te ensinar, Sloane Mercer: como forçar o universo a ceder e tomar o que é seu por direito.
Prendi a respiração.
— Não preciso das suas lições, muito obrigada.
Logo, ele apertou minhas coxas, puxando-me ainda mais para perto, e eu já nem sabia se meu corpo tinha estrutura para resistir.
— Eu sempre consigo o que quero. — Sussurrou, com a voz rouca e sombria como uma promessa indecente. — E como o que eu quero agora é você, é melhor torcer para esse casamento realmente acontecer. Porque não há nada que eu deseje mais do que te amarrar e me enterrar tão fundo em você que te faça desmaiar.
Por um instante, minhas pernas quase fraquejaram. A pele parecia em chamas, e o pulso disparava pulso acelerado martelando na garganta. Nunca tinha sentido uma atração tão selvagem... Algo tão visceral e primitivo, que arrastava junto a razão, destruía a moral e cuspia na lealdade. Não tinha nada a ver com a dor doce que me consumia por Finn. Aquilo era mais denso. Mais obscuro. E, de todas as formas possíveis, profundamente aterrorizante.
— Saia de perto de mim. — Sussurrei.
— Aceita a aposta, Sloane.
Meu corpo tremia, enquanto minha mente berrava para que eu corresse dali. Mesmo assim, algo em mim se inclinava na direção dele, como se já tivesse escolhido trair.
Naquele momento, meu ódio por mim mesma superava até o desprezo que eu sentia por ele. Porque, apesar de tudo, apesar dos sentimentos que ainda me prendiam ao Finn, uma parte sombria dentro de mim queria descobrir o que aconteceria se eu cedesse.
Em reação, engoli seco, desesperada para colocar distância entre nós... Tentar recuperar o mínimo de controle sobre mim mesma.
— Tudo bem. — Falei, sustentando o olhar dele sem desviar. — Está feito. Se o casamento acontecer, você sai da minha vida para sempre. Mas, se der errado... Aí você pode tentar a sorte.
O sorriso que surgiu nos lábios de Knox era a própria definição de pecado.
— Ah, Gatinha. Você não tem ideia do que acabou de fazer.
Eu tinha quase certeza de que acabara de vender minha alma para o diabo... Em troca de absolutamente nada.
— Sabe o que isso significa, né? — Disse ele. — Agora tenho um casamento para sabotar.
— O quê? Não... Não! Você disse que não ia sabotar.
— Isso foi antes de você aceitar o acordo. Acha que vai ganhar jogando limpo?
— Você não vai sabotar esse casamento, Knox.
— Quer apostar?
— Já deu de você e dessas apostas ridículas. Se fizer qualquer coisa errada, até respirar fora do lugar, eu acabo com você.
Ele riu.
— Ah, agora sim. Que vença o mais forte, Gatinha.
Antes que eu conseguisse responder, a porta da frente se abriu com violência, e Finn entrou parecendo alguém que havia enfrentado o próprio inferno, com o cabelo desfeito, os olhos avermelhados e os ombros tombados em pura rendição.
Aquela imagem dele, despedaçado, vulnerável e nitidamente tomado pela dor, me arrancou do transe e me fez lembrar por que eu estava ali, do que realmente importava.
Nos viramos ao mesmo tempo, e o modo como os olhos de Finn se fixaram em nós, alternando entre mim e Knox ao notar a nossa proximidade, fez meu estômago despencar.
"Ah, não."
— O que vocês estão fazendo? — Perguntou ele, cada palavra pingando suspeita.
Me afastei de Knox como se tivesse tocado fogo.
— Nada.
Finn estreitou os olhos.
— Vocês dois estavam... Meu Deus. Vocês estavam se pegando?