A noite caía espessa como tinta.
Dentro da van preta, Yasmin sentia o ar pesado demais e abaixou o vidro. Lá fora, o trânsito formava um fluxo interminável de luzes, havia o movimento vivo da cidade, o sopro do mundo comum.
O motorista percebeu o humor sombrio dela e disse em voz baixa:
— Fique tranquila, senhora. O que aconteceu há pouco... Eu não vou comentar nada com o Sr. Freitas.
Yasmin ficou um instante em silêncio, depois respondeu calmamente:
— Está tudo bem.
Ela se recostou no banco de couro e puxou o casaco de pele sobre os ombros, buscando um pouco de calor. Na frente, Dalila se desculpava em voz baixa.
Por um momento, Yasmin ficou perdida em seus pensamentos. O celular vibrou duas vezes e a tela acendeu, depois se apagou. Só muito tempo depois ela o pegou para ver.
Era uma mensagem de Eduardo: [Parabéns.]
Aquela palavra cravou como uma facada em seu peito. Yasmin esboçou um sorriso vazio.
Os que feriam, muitas vezes, nem percebiam que feriram.
...
Meia hora depois, o carro