O vazio e o silêncio.
Isabela Duarte Ricci
As lágrimas ardiam, mas não caíam. Eu não podia me dar ao luxo de chorar agora. Não com três filhos me esperando em casa, e o homem que amo talvez morrendo em algum lugar frio, sozinho, achando que foi esquecido. Eu deixei Bella, os gêmeos e minha dor aos cuidados da babá e da Mônica. Dei um beijo em cada um, sentindo meu peito rachar por dentro. Bella segurou meu dedo com a mãozinha minúscula, como se quisesse dizer fica. Mas eu não podia. Não agora.
Meu pai, Miguel, me esperava do lado de fora com Ares. Estavam prontos. O olhar de Miguel era de aço. Um homem forjado na dor, mas que estava feliz ao lado da minha mãe, mas agora carregava nos olhos a mesma chama que ardia em mim: vingança e amor. Ares estava quieto. Nunca o vi tão sério. Era como se ele soubesse que tudo poderia acabar naquela noite, para todos nós.
Entramos no carro. O motor rugiu como se sentisse a urgência em nosso peito. A cidade passava borrada pelas janelas, uma mistura de luzes, sombras