Clara Nortelli

Eu observei Dimitri dormir no leito improvisado da pequena casa de campo onde me escondia havia semanas. Seu rosto, tão sereno agora, não fazia jus ao turbilhão de emoções que com certeza ele sentiria ao acordar. Mas ele não acordaria tão cedo. O coquetel de sedativos que administrei garantiria isso por mais algumas horas.

Eu me aproximei e ajeitei a coberta sobre seu peito, quase com ternura. Quase. Porque a culpa me atravessava feito uma lâmina, mesmo que eu me recusasse a enfrentar a mulher que destruiu a vida de quem eu amo.

— Me perdoe, Dimitri... — sussurrei, como se isso aliviasse o peso que esmagava meu peito. — É por um bem maior. Pelo que Jason significava e continuará significando pra mim.

O barulho da porta dos fundos me tirou dos pensamentos. Olhei para o relógio. Ela havia chegado. Precisamente como combinado. Era pontual, essa babá era útil.

Fui até a porta, respirei fundo e destranquei.

Lá estava ela. Desarrumada, com o rosto sujo de fuligem, o olhar as