Dez dias atrás, eu e meu marido Clyde combinamos de ir esquiar na Montanha de Neve de San.
Eu já estava vestida com o equipamento de esqui e sentada no saguão esperando o instrutor, quando Clyde apareceu diante de mim acompanhado de sua primeira namorada, Kelly.
Ele me entregou um Termo de Consentimento para Doação, pedindo para eu assinar.
— Vanessa, você e a Kelly tiveram compatibilidade de medula óssea. Assim que voltarmos, faremos a cirurgia.
Ao lado, Kelly, com o rosto pálido, segurou minha mão com muita gratidão.
— Vanessa, obrigada por estar disposta a doar sua medula óssea para mim. Eu e o Clyde sempre seremos gratos a você.
Retirei minha mão e olhei para Clyde, hesitante, dizendo:
— Clyde, estou grávida. Será que podemos adiar a doação por enquanto?
Eu queria trocar de roupa, pegar na minha bolsa o exame que comprova a gravidez.
Mas Kelly me olhou com os olhos cheios de lágrimas.
— Vanessa, nos últimos meses o Clyde esteve comigo o tempo todo no hospital. Como você poderia estar grávida?
— Eu sei que você não gosta de mim, mas não precisa mentir só porque não quer doar a medula.
Clyde, que até então parecia tocado com minha gravidez, fechou a cara ao ouvir isso.
— Vanessa, pare com essas atitudes infantis. Se não queria doar, não deveria ter aceitado fazer o teste de compatibilidade.
— Agora que foi compatível, você diz que não quer mais? Está brincando comigo?
— E ainda diz que está grávida? Eu nem estava em casa, como você poderia engravidar sozinha? Até para mentir tem que ter limite.
Kelly puxou a manga do casaco de Clyde.
— Deixa pra lá, Clyde. A Vanessa me odeia, não quer me ajudar e isso é compreensível. Afinal, eu apareci e roubei sua atenção.
Dizendo isso, ela correu para fora, mas depois de dois passos, desmaiou no chão gelado.
Clyde, aflito, a pegou nos braços e me lançou um olhar furioso.
— Olhe só o que você fez! Tire esse equipamento de esqui agora mesmo, vamos ao hospital doar a medula para Kelly.
Sem me olhar mais, saiu carregando Kelly.
Parecia convencido de que eu o seguiria.
Mas eu não estava mentindo, eu realmente estava grávida de três meses.
Acontece que, como ele não voltava para casa há um tempo, não tive oportunidade de contar.
Quando terminei de trocar de roupa e saí, percebi que Clyde já havia levado Kelly embora.
Apertei o sobretudo contra mim, meio irônica, e me preparei para descer a montanha sozinha, quando ouvi alguém gritar:
— Avalanche! Corram!
Infelizmente, não consegui fugir da avalanche.
Fui soterrada por uma grossa camada de neve e, sem ser resgatada, morri asfixiada.
Depois da morte, tornei-me um fantasma, presa ao lado de Clyde, sem conseguir partir.
Já se passaram dez dias desde minha morte.
Nesses dez dias, ele não se lembrou de mim, pois Kelly estava muito doente e precisava de seus cuidados constantes.
— Clyde, será que vou morrer?
Diante da debilitada Kelly, Clyde fez uma promessa.
— Você não vai morrer. Vou ligar para a Vanessa agora.
Ele pegou o celular para me ligar, mas percebeu que meu celular já estava desligado.
Como o quadro de Kelly era urgente, ele imediatamente pegou um táxi e voltou para casa.
Ao abrir a porta, o apartamento tinha o mesmo aspecto de dez dias atrás.
As flores na mesa já haviam murchado, mostrando que ninguém vivia ali havia tempos.
— A Vanessa não está? Será que ela ainda não voltou da montanha?
Kelly, que deveria estar no hospital, quis vir pessoalmente agradecer, então acompanhou Clyde até nossa casa.
— Impossível, ela foi de carro sozinha naquele dia.
— Então será que ela não quer doar a medula para mim? Por isso está se escondendo? Não imaginei que ela me odiasse tanto, nem para doar uma medula ela aceita.
— Deixa pra lá, só de poder te ver enquanto estou viva, já estou satisfeita.
Ao terminar de falar, quase desmaiou.
Clyde a segurou com cuidado.
— Não, ela prometeu para mim.
Ele começou a me mandar mensagens.
[Vanessa, não importa onde você esteja, volte para casa imediatamente para assinar o termo de doação.]
[É só uma doação de medula, você não vai morrer por isso. Está se escondendo do quê? Vai deixar a Kelly morrer diante dos seus olhos?]
[Você odeia tanto assim a Kelly?]
Eles esperaram por mim muito tempo em casa, mas não houve resposta.
Com raiva, Clyde deu um chute na porta do meu quarto, fazendo um barulho estrondoso.
No estado de alma, minha mãe se encolheu assustada no meu colo.
— Vanessa, por que o Clyde está tão bravo assim?
Assim que ouviu sobre a avalanche, minha mãe correu para a montanha, tentando subir para me resgatar, mesmo sendo impedida pela equipe de resgate.
Mas, como tinha acabado de passar por uma cirurgia, seu corpo estava fraco e ela não teve forças para continuar subindo.
Nesse momento, cruzou com um lobo selvagem. Sem forças para se defender, acabou sendo morta pelo animal a apenas cem metros de onde eu morri.
— É por eu ter ficado doente e gastado tanto dinheiro do Clyde?
— Então eu não vou mais me tratar. Diga a ele para não ficar bravo.
Acariciei sua cabeça, sentindo uma dor lancinante no peito, como se algo entalasse minha garganta, sem conseguir dizer uma palavra.
O grande barulho assustou o vizinho do lado.
O vizinho saiu, ficou surpreso ao ver Clyde e depois o consolou com um tapinha no ombro.
— Clyde? Você voltou? Já cuidou do funeral da sua esposa? Meus pêsames.
Clyde imediatamente se recompôs e perguntou:
— Do que você está falando? Que funeral?
O vizinho suspirou:
— Sei que é difícil aceitar a morte da sua esposa. Mas foi uma tragédia natural, não havia o que fazer.
Clyde ficou atônito por um instante.
Kelly puxou a manga do casaco de Clyde.
— Que história é essa da Vanessa? Se não quer doar a medula, que diga logo, não precisa fingir que morreu. Isso não é certo.
Clyde voltou a si.
— Isso mesmo, uma mulher como ela não morreria tão fácil. Deve estar me enganando.
Ele olhou para o vizinho.
— Já que consegue contatá-la, diga que, se não aparecer no hospital em três dias, vou suspender o pagamento do tratamento da mãe dela.
Vendo Clyde entrar no elevador, o vizinho murmurou, confuso:
— A mãe dela não morreu junto com ela na montanha?
— Ouvi dizer que a Vanessa ainda estava grávida de três meses... Que pena.