Clyde acompanhou Vanessa de volta ao hospital.

Os dois pareciam tão próximos que lembravam um casal apaixonado.

— Clyde, será que a Vanessa me odeia tanto assim a ponto de estar se escondendo de propósito?

— Eu nunca deveria ter voltado ao país, nunca deveria ter pensado em te ver uma última vez antes de morrer. Você não precisa ficar comigo no hospital, vá para casa consolar a Vanessa. Quando eu morrer, vocês dois vão se reconciliar.

No leito do hospital, Kelly parecia prestes a chorar, empurrando Clyde para fora com delicadeza.

Clyde afagou seus cabelos com carinho.

— Boba, você só está com anemia, não vai morrer. Mesmo que a Vanessa não doe a medula, eu farei de tudo para encontrar uma compatível para você.

Kelly ficou visivelmente emocionada.

— Obrigada, Clyde. Conhecer você foi a melhor coisa que me aconteceu na vida.

— Não sei quanto tempo ainda vou sobreviver, se vou conseguir esperar por uma segunda compatibilidade bem-sucedida. O médico disse que os dados da medula da Vanessa combinam perfeitamente com os meus, ele nunca viu uma compatibilidade tão alta entre duas pessoas.

Clyde falou com convicção e promessa:

— Então, por você, eu vou encontrá-la!

Nesse momento, meu coração inevitavelmente sentiu uma pontada de dor.

Os dois juntos pareciam uma bela pintura, e memórias de anos atrás vieram à tona.

Cinco anos atrás, uma amiga organizou uma atividade extrema de travessia da montanha nevada.

Quando chegamos ao meio do caminho, encontramos Clyde viajando sozinho.

Conversando, descobrimos que ele havia terminado recentemente um relacionamento. Seu primeiro amor o achava incapaz, que não poderia lhe dar uma vida de luxo, então terminou unilateralmente e foi morar no exterior.

Achei ele tão infeliz, que acabei conversando bastante com ele.

Através da conversa, percebi que tínhamos muitos interesses e assuntos em comum.

Foi um encontro maravilhoso, mas como estávamos apressados, ambos esquecemos de trocar contato.

Achei que nunca mais o veria.

Mas, uma semana depois, reencontrei-o numa conferência de lançamento de produto.

Ele me contou que havia conseguido um novo emprego, com um chefe bom, que o valorizava muito.

Coincidentemente, o novo emprego dele era justamente no projeto de cooperação entre as nossas duas empresas.

Com o convívio frequente, o sentimento entre nós surgiu naturalmente.

Ele dizia que eu era a luz que curou as feridas deixadas pelo seu primeiro amor.

Então nos casamos.

Ele prometeu cuidar de mim por toda a vida.

No começo, ele realmente fez isso.

Mas o ideal não sobrevive à realidade.

Três anos atrás, ele começou a empreender, e eu também pedi demissão para ajudá-lo.

Devido à sobreposição dos negócios, acabamos encontrando inevitavelmente o antigo chefe da minha empresa, José.

Clyde realmente tinha capacidade, chegando a tirar vários pedidos das mãos de José.

José ficou furioso e passou a prejudicar propositalmente a nossa empresa.

Para resolver o conflito, precisei ir pessoalmente pedir uma trégua.

José apontou para a bebida sobre a mesa:

— Se beber tudo, eu deixo ele em paz.

Nossa empresa era pequena, impossível competir com José.

Esse era o negócio que Clyde construiu com tanto esforço, eu não podia ver tudo ruir diante dos meus olhos.

Naquela noite, então, bebi a mesa inteira.

No dia seguinte, fui internada por intoxicação alcoólica.

Durante os exames, descobri que estava grávida de um mês.

Mas, por ter bebido tanto, havia grandes chances de o bebê nascer com problemas de saúde.

Não teve jeito, precisei optar pela interrupção da gravidez.

Clyde ficou furioso e foi tirar satisfação com José.

Mas nem chegou a entrar na empresa.

Sentindo-se culpado, jurou para mim que um dia teria sucesso, me daria uma vida confortável e não deixaria ninguém nunca mais me prejudicar.

De fato, depois que ele teve sucesso, ninguém mais me prejudicou.

Apenas quem passou a me ferir foi ele mesmo.

...

As lembranças foram interrompidas por um telefonema.

Era um número desconhecido.

Depois de muito tocar, Clyde atendeu a contragosto.

Não sei o que disseram do outro lado, mas ele ficou furioso.

— Quem é você? É mais um ator contratado pela Vanessa? Ela está viva e bem, por que eu deveria reconhecer um corpo?

Eu mais ou menos entendi quem estava do outro lado — provavelmente os socorristas que encontraram o meu corpo.

Depois da morte da mamãe, Clyde era meu único parente neste mundo, por isso a equipe de resgate entrou em contato com ele.

Infelizmente, o mal-entendido dele comigo era tão profundo que ele não acreditava em nenhuma notícia relacionada a mim.

Kelly olhava para ele, preocupada.

Ele tentou tranquilizá-la, dando um tapinha em seu ombro, mas seu olhar recaía repetidas vezes sobre o celular.

O que ele esperava?

Esperava que eu ligasse dizendo que já tinha chegado ao hospital, pronta para doar minha medula?

Infelizmente, nunca mais poderei fazer isso.

— Descanse um pouco, vou buscar algo gostoso para você comer.

Ele pegou o celular e saiu do quarto.

Fui obrigada a segui-lo.

Vi ele retornar a ligação para o número que havia ligado antes.

Ligou várias vezes, mas sempre caía na caixa postal.

— Sabia que era uma farsa, depois que percebem que descobri, nem têm coragem de atender.

— Vanessa, até quando você vai continuar com isso?

Eu realmente não entendia por que ele achava que eu estava sempre criando confusão.

Será que, aos olhos dele, eu era apenas uma mulher irracional e escandalosa?

O telefone tocou novamente, outro número desconhecido.

Clyde atendeu, mesmo franzindo a testa.

— Exame de gravidez? Eu não marquei exame de gravidez.

— Foi minha esposa Vanessa quem marcou? Vocês devem estar enganados, ela nem está grávida.

— Já entendi, vocês também foram contratados por ela, não foram? O que ela quer afinal? Por que continua me enganando repetidas vezes?

Ele andava irritado pelo corredor.

— Estou avisando pela última vez: se continuarem com essas brincadeiras ridículas junto com ela, vou chamar a polícia!

Depois de desligar, ele simplesmente desligou o celular, perdendo a ligação de retorno da equipe de resgate.