CAPÍTULO 3 TARSO

Recuperei-me do porre que tomei, e deu certo para viajarmos. Em algumas horas, estaremos em Austin. Quando chegamos, já tinha um motorista nos esperando, e a minha vontade era de sair para badalar, mas, como continuo me recuperando do último porre, amanhã tem mais coisas divertidas para fazer, inclusive rever alguns amigos. Yan me observa.

— Por que me olha assim, Yan? — pergunto durante o caminho.

— Estou pensando na reação quando a sua mãe souber que você está aqui!

— Até eu queria ver. Dona Elis vai se arrepiar dos pés à cabeça.

— Você foi tudo de ruim mesmo, Tarso? Me recuso a acreditar que você é tão temido por aqui. Sei que tem várias passagens pela polícia, mas eu não sinto que você seja assim.

— Não sou um santo. Poucas pessoas conseguem enxergar a nossa alma, o nosso coração. Lembra de como nos conhecemos e viramos amigos? A gente só tinha sonhos, e não era dinheiro. É por isso que, até hoje, somos amigos.

Bato levemente no seu ombro, e fomos para um hotel descansar. No dia seguinte, saímos bem cedo para olhar a casa que comprei.

Quando o carro se dirigia para o endereço, lembro o quanto gostava de andar de skate com os meus amigos aqui nessas ruas quando criança. A casa que mandei comprar não é tão longe da casa da minha mãe. Ao chegar em frente à casa, o carro para, e entramos imediatamente na casa.

— Aqui está a sua casa. Precisa de uma reforma — Yan fala.

— Sim, pode marcar a reforma. Agora, preciso ir buscar o meu carro Porsche. Preciso guardá-lo aqui — falo, tranquilo.

— E o quê, Tarso? É isso mesmo que ouvi? Você mandou trazer aquele carro para cá, o que foi apreendido uma vez na outra cidade? Não vai inventar de praticar racha aqui, não, né? — Yan fala, nervoso.

— Relaxa, Yan. É só uma brincadeira.

— Aquele maldito carro está no meu nome, e eu pensando que você tinha aprendido a lição. Já sabe que, se pegarem você aqui praticando isso de novo, vai ser preso, e não há fiança nesse mundo que solte você.

— Adoro ver você assim, nervoso. Estou com saudades de uma adrenalina.

— Vai pular de paraquedas, saltar de avião. São esportes para testar o coração.

Quer ver Yan nervoso? É só falar em adrenalina para ele. Mas, no final, ele sempre acaba cedendo às minhas exigências. Mal sabe ele que o carro é outro modelo e zero.

Entramos no nosso carro e fomos ver se o meu brinquedo conversível chegou. A cara do Yan ao ver o carro zero e modelo ultrarrápido é hilária.

— Seja lá o que você esteja aprontando, Tarso, não me meta em confusões. Esse carro está no nome de quem? — Yan pergunta, aflito.

— Em nome de ninguém. Dei um jeitinho dele chegar aqui sem passar por fiscalização.

— Você é o diabo. Não dá para ser correto do teu lado. Vou desistir de você, está ouvindo, né?

— É bom ser errado às vezes!

Entro no meu novo carro e deixo ele sozinho. Vou para onde sempre fui bem-vindo, na periferia. Ao chegar na rua simples, os olhares se voltam para mim, e parei na oficina velha do antigo amigo, o Kiko.

— Loiro Navarro, é você, cara? — Kiko pergunta, sem acreditar que sou eu.

— Sou eu mesmo, brother — falo e o abraço.

— Pensei que estava preso. Não tinha mais ouvido falar em você, cara.

— Estou solto. Não tenho medo de cadeia!

— Você não tem medo, mas a sua mãe, sim. Você sempre foi um riquinho da pá virada.

— E como sou. Mas, à noite, tem racha como nos velhos tempos? — pergunto.

— Não entendo por que o rei tinha ido embora, mas, como ele voltou, podemos organizar hoje. Porém, tenho medo de ser preso, loiro. Construí família, tenho esposa e filho, sabe como é.

— Não sei como é, mas, se formos presos, soltarei toda a turma.

— Loiro, você é diferente demais da sua família. A humildade aqui nesse coração resplandece.

Kiko fala e me leva para falar com a galera na casa dele. Conheci a sua família, conversamos por horas, e vejo o quanto a sua condição financeira é difícil, mas ele está de pé, firme e forte. Vou falar com Yan para ajudá-lo. Quando foi à noite, fomos para uma festinha particular, e lá encontrei outros amigos. Bebi, dancei um pouco, só não fiquei com as mulheres que estavam ali. Após toda a nossa comemoração, cada um entra no seu carro, e fomos relembrar os velhos tempos. Ao chegarmos na pista, uns playboys estavam nos esperando.

— Olha aí se não é o playboy da família Navarro — Kell fala, vindo na minha direção.

— Sou eu, sim. Está com medo de mim?

— Não tenho medo do playboy mimado.

— Se eu ganhar essa corrida, o prêmio será essa sua Ferrari? — pergunto, mordendo o lábio.

— Negócio fechado, Navarro. E se eu ganhar?

Kell pergunta, e fui até o meu carro, retiro a mala repleta de dinheiro e levo até ele. Ele fica de boca aberta, e a sua turma o incentiva. Entramos nos nossos carros e ficamos pareados. Que adrenalina maravilhosa! Como é bom reviver isso, ouvir os barulhos dos motores. Quando foi dada a largada, pisei fundo no acelerador. Se existir algo melhor do que dirigir um carro em alta velocidade, desconheço emoção maior. Olho rapidamente pelo retrovisor, e o maldito do Kell… Eu nunca perdi um racha na minha vida, e não vai ser hoje que irei perder. Mas, à medida que eu cantava a vitória por ganhar o seu carro, barulhos de sirene da polícia ecoavam, vindos na nossa direção. Freamos de uma vez, mas era tarde demais. Fomos simplesmente cercados por viaturas da polícia.

— Desçam dos carros, os dois, com as mãos para cima.

Kell e eu descemos lentamente, de mãos para cima, e um dos agentes me reconheceu.

— Ora, ora, se não é um velho conhecido da polícia, Tarso Navarro. Andava sumido, mas resolveu aparecer. Não teve sorte hoje, playboys. Todos presos.

E, para ficar pior do meu lado, o outro agente da polícia achou o dinheiro na mala. Quando chegamos na delegacia, o restante da turma do racha estava lá. Como não é a primeira vez que visito uma delegacia, só me restou chamar Yan para soltar a galera. Enfim, amanhã estarei nos jornais para o infarto da senhora Elis Navarro, por eu estar de volta.

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