2. ARIANA

Viajei o mundo em uma missão com um grupo de amigos médicos, logo após o término de um longo namoro. Eu vivia totalmente dependente, e essa viagem veio como uma válvula de escape para tentar sobreviver à dor que me consumia. Nela, vivi experiências que jamais esquecerei, e tudo ficou registrado na minha câmera fotográfica. Embora eu trabalhe com odontopediatria há anos, nessas missões atendi pessoas de todas as idades que precisavam de cuidados. Em momentos em que me sentia um "nada", um abraço de agradecimento me fazia sentir viva e, às vezes, até importante para o mundo.

Hoje estou no Peru. Já faz um ano que viajo de país em país, participando de projetos sociais voltados para a saúde bucal. Senti na pele o que a desigualdade social faz com os seres humanos, mas também aprendi que minha dor é sempre menor que a do outro. Sempre há alguém sofrendo mais do que eu.

Nesse tempo longe da minha família, meus pais me pediam para voltar para casa, com saudades. Eu sempre os respondia mostrando o belo trabalho que estava fazendo e dizia que milhares de pessoas precisavam de mim. Mesmo como filha única e rica, levo uma vida simples, seguindo meu próprio caminho em busca de fazer o bem.

Depois de mais um dia de trabalho voluntário, tomei banho e durante todo esse tempo descobri que o dinheiro não é tudo. Quando ele não preencheu, muitas das vezes, o vazio que senti. E num quarto no hotel, tomei um banho e tive a coragem de me encarar no espelho. Vi o quanto emagreci sem fazer dieta maluca. Eu sempre lutei com a balança, pois nunca fui nem magra, nem gorda, mas sempre tive medidas a mais, o que me fazia ter uma autoestima baixa por não me encaixar nos padrões de uma mulher de capa de revista. Para agradar os outros, eu tentava ser vaidosa ao máximo, em vez de me agradar. Durante essa missão, evitei me olhar no espelho e me larguei totalmente. No entanto, ao me encarar, percebi o quanto meu corpo está legal. Dany entrou no quarto e me olhou com uma cara estranha.

— Ariana, está tudo bem com você? — perguntou, tocando em meu braço, assustada.

— Sim! — respondi, virando-me para ela.

— Confesso que me assustei. Você estava parada em frente ao espelho sem piscar.

— Estou admirada com o quanto emagreci. Você, mais do que ninguém, sabe que nunca fui magra! — falei, saindo da frente do espelho.

— Está perfeita. Ariana, você é linda. Esse ano viajando de um lado para o outro, longe de tudo que era tóxico, permitiu que você fosse você mesma. Pelo menos para alguma coisa o fim do seu namoro serviu.

— Pelo menos isso. Quando eu voltar para os Estados Unidos, vou precisar renovar o meu guarda-roupa — comentei, desanimada.

— Ariana, me escuta! Está na hora de você sair e conhecer alguém novo. Não é porque o "tal lá" te trocou por outra que você vai passar a vida toda nessa tristeza. Olhe para esse corpo! Saiba que você é o sonho de alguém — Dany disse, animada, enquanto arrumava a mala dela.

Hoje foi nosso último dia de missão no Peru, e eu também arrumei minha mala para retornar, já que o Natal se aproxima e nada mais justo do que passar essa data ao lado da minha família. Enviei uma mensagem para os meus pais avisando que estava voltando, e eles ficaram muito felizes.

Já era mais do que a hora de voltar. Esse ano longe de tudo me transformou em uma nova mulher. Alguém que se aceita do jeito que é, sem máscaras, sem perder o que há de mais lindo em mim, que é a simplicidade e a forma como acolho as novas pessoas que surgem na minha vida.

No dia seguinte, de malas prontas, viajamos todos juntos, assim como viemos. A equipe toda estava sorrindo, com a sensação de dever cumprido.

Após horas de viagem e escalas, chegamos a Orlando. Meus pais estavam lá, de braços abertos e com os olhos cheios de lágrimas. Eu os abracei forte, como se fosse nosso último abraço. Eles ficaram admirados ao ver o quanto emagreci e me encheram de elogios.

— Filha, você está perfeita! Saiba que você é nosso orgulho — disse minha mãe, emocionada.

— Amo vocês! — falei, olhando para os dois.

— Ariana, nunca mais inventa de passar tanto tempo longe de nós. Eu não aguento mais ficar longe da minha princesa — meu pai falou.

— Vim para ficar com vocês, prometo que não vou viajar tão cedo.

— Já temos um evento em família para ir no fim de semana, o aniversário da Leide Dylon — minha mãe disse, e eu me lembrei da aniversariante.

Enquanto íamos para o carro, minha mãe já estava tentando me convencer a ir a essa festa com eles. A Leide faz parte da maior família da cidade, e eu não conheço nem a metade.

No caminho para casa, vi a cidade enfeitada. Amo a magia que o Natal traz nessa época. É algo que transmite amor, paz e união. A cidade, como sempre, estava linda, e eu me apaixonei por cada detalhe, sonhando com dias melhores para todo o mundo.

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