Acordei com o corpo pesado, como se estivesse submersa. Meus olhos demoraram a se ajustar à penumbra suave do quarto.
A dor era uma pontada surda, insistente, no ombro esquerdo… mas não tão insuportável quanto imaginei.
Suspirei. Estava viva.
Com cuidado, me ergui devagar na cama, sentando com as costas arqueadas, os pés quase tocando o chão gelado. Levei a mão ao curativo que cobria o ferimento. Ardeu ao menor toque. Ainda assim, era suportável.
Um alívio estranho me preencheu.
Poderia ter sido pior. Poderia... nem estar aqui.
Fechei os olhos e a memória veio sem pedir licença: o som abafado da voz dele, o calor dos braços me envolvendo, e o perfume que quase anulou a dor.
Leonardo.
Eu tinha me sentido segura. Não era uma segurança racional, não era lógica. Era um instinto. Um resquício de vida que eu já nem lembrava como era.
A forma como ele me carregou nos braços… como se eu fosse feita de vidro. Como se minha dor o afetasse mais do que a dele mesmo.
E quando afundei meu rosto