Este é o livro 2 da Série Seco e Suave (O primeiro livro é Desejo Tinto) Depois de terminar o relacionamento com Giovanna, Matteo está de volta ao fundo do poço. Mas ele não está sozinho, por que ela foi levada junto com ele como um lembrete de que não importa o quão bom nadador você seja, se você não adotar as medidas preventivas necessárias na tentativa de salvar alguém de um afogamento, você corre o risco de se afogar junto com ele. Mas desentendimentos amorosos à parte, o que fazer quando o que te derruba não depende de um pedido de desculpas, de reconhecer seus erros ou de uma mudança de postura? Esqueça o argumento de que pessoas de bem não se envolvem com pessoas de caráter duvidoso, porque quando a vida de alguém que você ama está por um fio, você revê seus conceitos, infringe leis e usa as armas que tem ou mesmo as que não tem. La famiglia vem aí.
Ler mais- Que porra foi essa? – eu ouvia Tony gritar atrás de mim, enquanto eu descia as escadas enfurecido. Eu estava com tanta raiva. Como ela pode fazer isso comigo? Era a única pergunta que latejava na minha cabeça. Tony se apressou e atravessou na minha frente. Empurrando o meu peito com as duas mãos – Pare aí, Porra!
Eu o empurrei de volta – Saia do meu caminho. Saia agora. – Eu saí da casa e entrei na caminhonete que estava parada ao lado da casa, enquanto Tony batia no vidro e gritava comigo, mas eu não estava mais registrando nada. Eu só queria sair dali. Dei partida no motor o mais rápido que eu consegui e dirigi para fora da fazenda.
Havia chovido logo cedo e o caminho de terra que eu precisava passar até chegar à estrada principal estava escorregadio. Mesmo assim, eu não reduzi a velocidade e alcancei em tempo recorde a rodovia. Quando cheguei à cidade, parei na praça principal e me debrucei sobre o volante. Meu peito estava dolorido, eu estava suando e minha cabeça latejava. Eu estava tomado por uma raiva indescritível. Tão parecida com a que eu senti no dia que eu descobri sobre Anabela e sobre Tony. Eu só ergui a cabeça quando a porta da caminhonete se abriu do lado do passageiro e Tony entrou e se sentou ao meu lado.
Ele parecia mais calmo do que quando tentou me impedir de sair de casa à cerca de meia-hora – Se veio...
- Não – ele disse simplesmente me acalmando – Só vamos tomar uma bebida. Não tem que falar nada, ainda.
Uma bebida era tudo o que eu precisava. Desci do carro, ele também e nós caminhamos para o bar do outro lado da praça em silêncio. Não havia outros clientes no local. Com exceção de uma garçonete, e o dono do bar que estava por trás do balcão e já era um conhecido, não havia mais ninguém.
A ruiva se aproximou da nossa mesa trazendo duas doses de Whisky – Sei que não pediram, mas basta olhar para as suas caras para saber que um desses ainda é pouco – Então, sem mais, ela calmamente se afastou, me deixando a sós com Tony.
Meu irmão apenas segurou seu copo na mão e brincou com o gelo. Ele não me perguntou nada e nem eu queria falar. Estava revoltado demais, decepcionado demais, desesperado demais para conseguir falar qualquer coisa coerente. Sabia que bastava abrir a boca e sairia todo tipo de atrocidades. Era a maneira como as coisas aconteciam comigo. Eu era um poço de calma, mas me transformava em um furacão quando magoado.
Quando eu tomei todo o conteúdo do meu copo de uma vez, a mulher voltou trazendo uma garrafa e colocando sobre a mesa e, ao lado dela, um balde de gelo. Tony ainda brincava com o conteúdo do seu copo, sem ter tomado sequer um gole. Eu estava na terceira dose quando as palavras apenas pularam da minha boca – Como ela pode? – mais silêncio depois disso – Qual o meu problema com as mulheres? Eu fui legal para elas – Meu irmão arqueou as sobrancelhas e, finalmente, deu o seu primeiro gole – No entanto, parece que eu só atraio sua traição. Que porra é essa? Uma competição de fodam o Matteo?
- Matteo – Tony começou a falar, seu tom cuidadoso demais como se não quisesse que eu me fechasse – com todo o respeito a sua falecida ex-mulher, ela era uma cadela. Mas Giovanna pode ter cometido um erro, eu confesso que não entendi muito bem qual foi o motivo de vocês terem brigado, mas ela não é como Anabela e você sabe disso, porra! O que há de errado com você? Eu não acredito que você ouse compará-la a Anabela – Eu estava com muita raiva dela, mas eu não poderia me referir a ela como uma cadela.
- Ela me enganou, cara. Eu a admirava por sua honestidade. Depois que eu descobri sobre as traições de Anabela e sobre toda a minha família mentir pra mim – sem ofensas – Mas eu meio que me agarrei a sua honestidade como a um bote salva-vidas. Giovanna não mentia pra mim, nem escondia as coisas em hipótese alguma e prometeu que jamais o faria. No entanto, ela usou um perfil falso nas redes sociais para me manipular.
Eu podia ver o choque no rosto de Antony. Ele não acreditava que Giovanna seria capaz de fazer isso. Inferno! Nem mesmo eu conseguia acreditar. Virei mais um copo da minha bebida e comecei a contar tudo para Tony. Esse era eu no “modo desabafo”. Eu estava fodido. Terminei minha narrativa com a pergunta que não quer calar: - Por que ela fez isso comigo?
- Talvez, se você tivesse esperado para ouvi-la, tivesse a sua resposta. De qualquer maneira, ao que parece, ela não devia ter ideia de quem você era no começo. Talvez ela tenha descoberto e tenha ficado com medo, ou então ela tenha te dado sugestão antes de ter descoberto a sua identidade. O fato é que você não esperou para saber.
- Ótimo! Agora eu sou o culpado.
- Eu não estou colocando a culpa em você. É evidente que ela tem alguma responsabilidade. Mas tenho certeza que ela teve razões para agir assim, tudo que você tinha a fazer era dar a oportunidade para ela explicar.
Silêncio se instalou mais uma vez. Aos poucos a ficha ia caindo – Foda-se!
- O que foi?
- Eu a acusei de estar grávida de outra pessoa. Talvez você.
- Porra! Eu ouvi isso. Foi a pior coisa que você falou. Precisa conversar com ela imediatamente.
- Ela não vai querer me ouvir... exagerei, não é?
- Honestamente? – ele perguntou, mas não esperou resposta – Você exagerou. Tenho certeza que ela pode explicar isso, cara. Você apenas a tratou como a uma vagabunda. Pelo pouco que eu sei sobre essa autora, Gi, ela era anônima e isso devia ser importante pra ela ou quem sabe era uma exigência da editora como uma jogada de marketing... vai saber. Talvez ela quisesse apenas ter certeza de que as coisas estavam sérias entre vocês para contar pra você o seu segredo. Não justifica, mas talvez explique.
Antes que eu pensasse em uma resposta, a porta do bar se abriu e uma cara conhecida apareceu. O homem hesitou na entrada por alguns segundos, mas em seguida, estufou o peito e caminhou através da mesa na minha direção – Mazza – ele cumprimentou em falso tom de surpresa – O que tem feito? Enganando mais casais de velhos idiotas para roubar suas terras?
Eu senti o aperto do meu irmão na minha perna, ao mesmo tempo em que a minha raiva crescia em velocidade exponencial – Eu se fosse você, não o provocava, Pienezza. Hoje não é um bom dia. Além disso, essa história é velha. Ninguém aguenta mais isso. Apenas suma.
- Sou um homem livre e estou aqui para tomar uma bebida.
- Então vá tomar a porra da sua bebida do outro lado do bar.
O dono do bar se aproximou quando percebeu a tensão – Vocês não vão brigar, vão? Por que eu vou querer cada centavo pelo que for destruído aqui e pelo que eu vou deixar vender. Para os dois homens Mazza isso não será um problema, mas e quanto a você Jeremias? Todo mundo sabe que você não tem aonde cair morto.
Eu podia ver a linha dura do seu maxilar e ouvi seus dentes rangerem enquanto ele desviava o olhar de mim para o dono do bar. Esse homem me odiava e era apenas inacreditável como isso ainda não acabou em tragédia. O cara era um parasita filho da puta que passou a vida inteira dando golpes em seus próprios tios. Tudo que eu fiz foi comprar uma propriedade e assumir legalmente a porra de um negócio e, no entanto, tenho que suportar esse chato no meu saco – Eu me ergui e dei um passo em sua direção – Eu não vou ser legal com você hoje, Jeremias. Não estou em um bom dia e essa merda apenas tem que acabar em algum momento. Se você me fizer perder a paciência não vai sobrar nada de você.
- Não tenho medo de você, otário. Mas eu não estou aqui para brigar. Como eu disse, estou aqui apenas para tomar uma bebida. Eu não vou despedaçar seu rostinho bonito. Vou atacar aonde dói mais.
- Não me ameace – ele apenas ergueu as mãos e se afastou para o outro lado do bar. O proprietário do estabelecimento voltou ao trabalho e eu fiz um esforço sobre-humano para não atravessar o salão e arrebentar a cara daquele imbecil. Meu irmão nos serviu outra dose.
- Bom que você não caiu na provocação dele. Honestamente eu achava que isso já tinha sido superado.
- Eu também. Mas nos encontramos raramente, o que torna impossível pra mim saber o quanto ele me odeia, até que temos um encontro inesperado e eu fico consciente da raiva que ele ainda nutre por mim.
- Isso é apenas irracional.
- Sim, mas diga isso a ele. Ele me odeia e ponto. Não importa que os seus próprios tios tenham sido claros sobre a venda da vinícola ser uma decisão consciente. Os velhos apenas não queriam deixar nada para esse bastardo.
- Bem, eu acho que você tem problemas maiores para se preocupar. O que você vai fazer sobre Giovanna.
- Nada. Eu não quero vê-la. Eu posso até ter errado na medida, mas o fato é que ela me enganou e sabe disso.
- Você sabe que vai acordar pela manhã e se arrepender de toda a merda fodida que você falou pra ela, não é?
Ele tinha razão. Eu já estava arrependido. Eu ainda estava muito puto, mas mesmo assim, eu não acho que ela jamais me perdoaria depois de tudo que eu disse. Aos poucos as palavras iam voltando pra mim. Deus! Eu a acusei de estar grávida do meu irmão – Eu não acho que ela me perdoaria. – Eu espero que você me perdoe pelo que eu disse. Foi uma merda envolver você naquilo, mas eu estava magoado. Eu precisava magoá-la na mesma medida.
Meu irmão assentiu – Eu sei quem você é Matteo. Você é apenas uma bomba relógio. Em noventa e nove por cento do tempo, você é o cara mais amável do mundo e no outro instante você apenas perde o controle e faz coisas estúpidas quando se sente traído. Eu sei que não é um tema bom para ser trazido à tona, mas eu me pergunto como você pode aguentar tanto tempo as coisas que Anabela fazia pra você tendo esse seu temperamento.
- Eu não queria enxergar, justamente por causa do meu temperamento. Eu não sabia das traições nem dela dando em cima de você, mas sabia que ela não me amava. Eu apenas não quis admitir isso. Achava que o que eu sentia era o bastante para nós dois.
- Então no fundo você sabe que Giovanna não é como ela.
- Ela mentiu pra mim e me manipulou esse tempo todo.
- Você nunca falou pra ela sobre quem você era. Talvez ela tenha descoberto isso no meio do caminho e não tenha encontrado uma maneira de te falar. Coloque-se um pouco em seu lugar.
A verdade era que eu, naquela altura dos acontecimentos, já estava arrependido pela maneira como eu explodi para Giovanna. Ela não me perdoaria. Mesmo ela, que é sempre tão calma, paciente e compreensiva, não iria deixar isso passar. Eu a acusei das coisas mais absurdas e levantei a suspeita sobre o meu filho. Porra! Fodi tudo – Eu fodi tudo, cara. Ela não vai me perdoar.
- Ela te ama. Dê-lhe tempo então.
A mansão estava iluminada. Durante todo o dia, carros e mais carros de entrega e equipes de serviço entraram e saíram da propriedade. Os vizinhos dos Mazzas haviam visto tantos brinquedos infláveis ao redor da propriedade. Tudo era muito colorido e alegre, em contraste com a sobriedade dos prédios históricos. A mulher havia passado o dia inteiro sentada sobre a grama no Parco Sempione, de onde poderia acompanhar toda a movimentação na propriedade da família Mazza, e o seu estoque de água e sanduíche já havia chegado ao fim. Mas a fome e a sede que sentia não podia ser saciada com comida ou com toda a água do mundo. Suas entranhas clamavam por vingança. Os desgraçados haviam acabado com a sua vida e agora ela os faria pagar. Fora uma amadora no passado, mas alguns longos meses podiam mudar a vida de uma pessoa e, consequentemente, a maneira com ela via as coisas. Tudo havia sido tirado dela: sua irmã, seus pais, seu emprego e sua possibilidade de seguir por uma vida honesta. Não é com
MatteoO SUV parou no pátio em frente à mansão e eu olhei para Giovanna antes de descer do carro. Esse momento tinha muito significado. Não era por ser essa a primeira vez que o nosso filho entrava em casa agora fora da barriga da sua mãe e também não era por que Giovanna estava voltando para casa depois de alguns dias na maternidade. Não. A verdade é que esse momento é para nós como uma reafirmação da vida. A última vez em que eu e Giovanna estivemos juntos nesta propriedade foi no dia em que embarquei para os Estados Unidos e depois disso... Santo Deus! Dói só de lembrar cada instante do pesadelo que nós vivemos. Posso dizer que nós renascemos no dia em que o nosso filho veio ao mundo. Olhando para Giovanna vi que ela tinha lágrimas não derramadas que brincavam em seus olhos – Parece um sonho que eu esteja de volta. – falou em meio a um suspiro – Em alguns momentos cheguei a pensar que eu não voltaria aqui, nem o veria de novo e, quer saber? De tudo, o que mais me preocupava era vo
Luca Sartori- Você sabe que ele tem razão – Antony disse assim que Matteo saiu. – Eu não tenho como te agradecer por isso, meu amigo.- Não tem que agradecer. Eu tinha uma dívida com você.- Você ainda teria feito isso se não achasse que tinha uma dívida comigo. – eu apenas encolhi os ombros – você sabe que teria feito. Você não é um cara mal.- Não. Você está enganado. Eu sou um cara muito mal.- Talvez...mas você também é justo.- Até quando? Às vezes eu tenho que fazer coisas que não são justas para o padrão médio da sociedade e em breve isso vai ser mais comum do que você pode imaginar.- Quem tá dando uma merda para o padrão médio da sociedade.- Pessoas de bem? Pessoas como você, como o seu irmão e a sua cunhada.- Todo mundo tem seus ossos escondidos no armário, você sabe. – ele disse e eu tive a impressão de que se referia a ele mesmo – Quanto ao meu irmão e a minha cunhada, eu tenho certeza que eles estão apenas gratos. Você estourou os miolos do desgraçado.Encolhi os ombro
Matteo - NÃAAAAAAO – foi tudo que eu consegui exprimir depois de ouvir um disparo no interior do veículo. Eu soquei o meu irmão e corri em direção ao veículo. A porta do passageiro se abriu e meu coração se encheu de esperança. Mas, então, ela não se moveu e eu senti dificuldade em respirar. Quando alcancei o carro pelo lado do passageiro, Giovanna estava em choque. Ela olhava para Jeremias que agonizava, havia sangue por todo lado e os olhos deles em pleno choque. – Eu o matei – ela disse e desabou a chorar.Os homens de Luca e os meus seguranças estavam a nossa volta. Luca abriu a porta de Jeremias e o puxou pela camisa jogando-o sobre o chão. Eu não podia deixar que Giovanna assistisse mais nada. Eu precisava tirá-la dali.- Querida, tá tudo bem. Vou tirar você daqui.- Eu o matei – repetiu – eu o matei.- Calma. Você não teve culpa. Eu vou cuidar de tudo.Eu a peguei em meus braços e me preocupei que ela estivesse tão leve para o seu estágio de gravidez. Deus! Eu não acredito qu
GiovannaDor.Muita dor.Depois de abandonar o carro que havia furtado dos mafiosos e fugir andando até encontrar outro veículo para furtar, Pienezza dirigiu em círculos por horas. Sim, ele trocou de carro outras duas vezes e optou por modelos antigos e em péssimas condições para garantir que não estariam protegidos por GPS nem nenhum dispositivo de rastreamento. Era madrugada quando ele encontrou um galpão abandonado e sujo para passarmos a noite.Eu não me alimentei nas últimas doze horas. Não tínhamos comida e ele não queria sair para comprar. Primeiro com medo de que fosse encontrado, segundo com medo de que eu pudesse fugir se fosse deixada sozinha. Tudo que havia era uma torneira que jorrava água de gosto duvidoso. Eu evitei o máximo que pude tomar aquilo, mas era isso ou morrer por falta de água. Ontem, quando Jeremias puxou uma lona velha e suja para que eu me deitasse hesitei. Estava mais do que óbvio que eu não poderia dormir em nada como isso. Mas o fato era que as minhas
Matteo- Luca está de volta – anunciou Tony enquanto olhava pela janela. Seu tom grave, preocupado coadunava com o meu... Aliás, estávamos todos preocupados. Porém, ninguém estava mais do que eu. Nervoso nem chegava perto de descrever como eu estava, nem ansioso. Eu contava os minutos para que o desgraçado do Pienezza contatasse a cadela da Alícia. Os homens de Luca haviam providenciado um equipamento capaz de identificar de onde estava vindo a chamada.A porta se abriu e então Luca entrou. Ele parecia cansado. Como se não tivesse dormido. – Bom dia – cumprimentou.- Bom dia – eu e Tony respondemos em uníssono.- Alguma novidade?- Até agora nenhuma – Tony respondeu. Estamos indo ao escritório esperar a chamada. Aliás, obrigado pelo equipamento.- Não tem problema. Fico feliz em ajudar. Não vejo a hora de ficar cara a cara com o desgraçado do Pienezza. Apenas tenham em mente que ele é um cara morto. Vou mata-lo.- Deus sabe o quanto eu sou um homem que segue a lei. Mas, nesse caso, se
Último capítulo