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CAPÍTULO 3 | LUCY DONOVAN

Dizem que quando você é feliz, os dias se passam rápido, mas eles esquecem de dizer que a vida se torna um grande momento em branco, quando não se sente nada. Foi no auge da minha ingenuidade, que eu descobri isso, e também nessa mesma época, eu achei que sabia o que era perder, mas eu não fazia ideia. Naquela época, eu achei que crescer era um processo lento, silencioso — feito de escolhas e maturidade e acordos assinados com sorrisos educados, foi assim que imaginei a minha vida.

Mas perder, de verdade? É bem diferente.

É um golpe. Um rasgo. Um grito que ninguém ouve, mas que você sente ecoar dentro do seu peito por horas, dias, talvez para sempre.

No dia em que a minha vida mudou completamente, eu acordei com o som dos pássaros cantando no jardim. A brisa era doce. O sol atravessava as cortinas de linho com a mesma delicadeza de sempre. Eu estava casada. Tinha uma casa, um sobrenome forte, um futuro e um marido que já havia saído para o trabalho a horas.

Tudo parecia... certo. Estável. Confortável, ainda que morno. Dois meses já haviam se passado desde o meu casamento, e Richard estava “muito ocupado” com a empresa, os negócios, a disputa pelo cargo de chefe. 

Os dias se seguiam e era sempre a mesma coisa: Richard estava fora, mais uma vez. Uma reunião, um almoço, um investidor — tanto faz. Não era importante. Ele raramente era importante nos meus dias, embora ocupasse cada canto da minha vida.

Naquela tarde, Chiara veio me ver. Ela trazia macarons e vinho branco, e nós nos sentamos na varanda de trás como fazíamos antes de toda a minha vida virar um roteiro de cerimônia.

Ela falava de alguma amiga em comum, de um novo escândalo social, e eu ria em pequenos intervalos, porque não tinha mais força pra me importar.

— Você tá calada demais — ela disse, após um gole de vinho, — eu sabia que esse casamento era uma ideia ruim.

— Eu só tô pensando — respondi. — Sabe quando você tem tudo, mas sente que não tem nada?

Ela me olhou com ternura. — Sei.

Silêncio.

— Às vezes eu acordo e esqueço que me casei. Esqueço até do meu nome novo. Só lembro que não sinto... nada. E não é como se as coisas fossem diferentes, sabe? É só… o mesmo de sempre. 

— Lucy… — ela colocou a mão sobre a minha, — você não precisa desse casamento.

Neguei com a cabeça.

— Eu sei… mas a minha família precisa, é um acordo.

Ela suspirou. 

— Mesmo assim. 

— É como se minha vida tivesse se tornado uma pintura bonita demais pra ser real. E eu fico ali, olhando, fingindo que sou a mulher dentro da moldura. — Grunhi e virei o último gole da taça — quando isso muda?

Ela estendeu a mão e serviu outra taça pra mim. — Talvez… esse casamento seja bom pra você saber o que quer depois. Um divórcio, um futuro diferente do que seus pais esperam. Eles te amam, você sabe. Tenho certeza que eles vão apoiar sua decisão e arrumar um jeito de organizar esse maldito acordo. 

Assenti, mesmo sabendo que aquilo era mais complicado do que ela fazia parecer.

— Mas… 

— Não procure desculpas, — ela me interrompeu, — o seu futuro é só seu. Pelo amor de deus, pare de se auto sacrificar. 

Eu ia responder. Juro que ia. 

Mas o telefone tocou.

Chiara olhou para ele, franziu o cenho, e foi atender. O tempo que passou entre ela dizer "alô" e o meu mundo acabar não durou mais do que trinta segundos.

— Lucy — ela chamou, a voz... estranha.

Eu me levantei. Ela estava de costas, ainda com o telefone na mão, imóvel.

— Quem era? Você está bem?

Ela virou devagar. Os olhos já vermelhos. A boca entreaberta, como se as palavras estivessem presas numa barreira invisível.

— Me diz agora, Chiara. O que foi?

Ela desligou.

Deu um passo. E mais um.

Depois, sentou ao meu lado, como se não conseguisse ficar de pé. E então, colocou a mão sobre a minha.

— Lu… Houve um acidente. Eles acabaram de me ligar do hospital, para avisar que… 

A frase ficou suspensa entre nós.

Meu corpo gelou. Meu estômago virou. Mas eu não falei nada. Só esperei.

— O que aconteceu? Que acidente? Como isso…

— Foram seus pais, Lucy. Eles... o carro... eles estavam vindo pra cá. O carro capotou na autoestrada. O motorista... morreu na hora. Eles... não resistiram.

— Não. — Foi tudo o que consegui dizer. — Não, Chiara. Você deve estar enganada.

Ela balançou a cabeça devagar. 

— Eu queria poder mentir. Queria dizer que alguém se enganou. Mas... é verdade.

— Não. Não pode ser. — As palavras saíam como sussurros de desespero. — Eles estavam bem. Eles estavam vivos hoje de manhã. Eu... eu devia ter ligado. Devia ter dito que os amava.

Ela começou a chorar, mas eu ainda estava em outra frequência. Minha mente repetia as mesmas frases:

Não. Não. Não.

Me levantei, tropeçando nos próprios pés. O mundo girava. Minha pele formigava.

— Eu preciso... preciso ver... preciso falar com alguém. Eles... devem estar confundindo. Tem... tem outro Cameron Donovan por aí. E outra Lilian. Alguém... alguém fez confusão.

Chiara me segurou pelos ombros. 

— Lucy, olha pra mim.

Eu olhei.

— Eu sei que é difícil aceitar… eu também não quero, mas você precisa. Eles se foram. Não tem confusão. Eles estavam vindo te visitar. Porque te amam, porque queria saber como você estava. Porque queriam te ver. Mas… o acidente aconteceu, — ela grunhiu, — eu estou aqui pra você, você sabe. Eu estou aqui pra ser seu apoio, seu e do Jasper.

Ao ouvir o nome dele, meu corpo travou.

Jasper.

Oh, meu Deus. Jasper.

Foi como um soco. Como se minha alma tivesse saído do peito. Caí de joelhos, o rosto nas mãos, soluçando como nunca imaginei ser possível.

Me senti uma criança. Uma órfã. Um eco.

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