Inicio / Romance / DEPOIS DO FIM / CAPÍTULO 1 | LUCY DONOVAN
DEPOIS DO FIM
DEPOIS DO FIM
Por: Niway
CAPÍTULO 1 | LUCY DONOVAN

O sol filtrava-se pelas grandes janelas de vidro da ala leste da mansão Donovan, tingindo o mármore branco com tons dourados que faziam tudo parecer mágico — ou talvez só mais uma manhã comum na casa em que nasci. Não importava quantas vezes acordasse ali, aquele lugar ainda me arrancava suspiros. Havia uma sensação de eternidade naquela propriedade, como se as paredes sussurrassem histórias de gerações que viveram, amaram e caíram nos mesmos lugares onde agora eu caminhava.

Minha xícara de chá ainda soltava fumaça quando me acomodei no banco de madeira entalhada do jardim de inverno, ladeado por trepadeiras e roseiras em flor. Entre as mãos, um exemplar antigo de Madame Bovary, presente de minha mãe em meu aniversário de quinze anos — e que eu jamais terminei. A ironia não passava despercebida: uma história de paixões sufocadas em meio a convenções sociais, lida por mim, Lucy Donovan, filha de um banqueiro europeu e de uma dama de linhagem nobre, prestes a aceitar um casamento arranjado sem nem ao menos perceber que era arranjado.

Meu irmão mais novo, Jasper, tinha prometido me encontrar para cavalgarmos após o café, mas como sempre, devia estar perdido em alguma distração — talvez treinando salto com o novo cavalo ou provocando os cozinheiros. Com apenas doze anos, Jasper era uma mistura encantadora de travessura e sensibilidade. A luz da nossa casa.

Antes que eu pudesse me perder demais nos pensamentos, minha mãe surgiu na varanda, com passos silenciosos e firmes. Lilian Donovan era o retrato da sofisticação contida — cabelos presos em um coque baixo, vestido em tons de creme e ouro, e um colar de pérolas que fora passado por gerações.

— Lucy, querida — disse com suavidade. — Pode me acompanhar por um instante?

Fechei o livro sem hesitar e a segui por entre as portas de vidro. Caminhamos até o salão azul, um dos meus preferidos, onde as janelas davam para o lago. Ela sentou-se em uma das poltronas de veludo e me ofereceu a outra, de frente para ela.

— É sobre Richard — ela começou, e não me surpreendi.

— Imaginei — respondi, tentando disfarçar o nervosismo com um sorriso contido.

— Você gosta dele?

Pensei por um instante. 

— Gosto. 

Eu disse e não era completamente mentira. Eu gostava. Gostava da maneira como ele segura a porta para mim, do jeito como ele escuta quando eu falo... Gostava da calma que ele transmite. E ele é gentil, mãe. Muito gentil.

Ela me observava como se tentasse medir a profundidade do meu afeto, com aquela paciência sutil que só mães treinadas em diplomacia conhecem.

— Mas você o ama?

— Não — respondi, firme. — Mas... talvez um dia venha a amar. O que sinto por ele... é o suficiente. É mais do que muitas pessoas têm, não é?

Ela assentiu, como se eu tivesse passado algum teste. 

— Amor, minha querida, é um luxo. Respeito, estabilidade e lealdade... esses são os alicerces de uma vida longa e tranquila. E Richard pode te oferecer tudo isso.

Permaneci em silêncio por alguns instantes. A verdade é que eu não me sentia pressionada. Era quase como se o mundo ao meu redor já tivesse decidido meu destino, e eu estivesse apenas... aceitando.

O som de passos correndo no corredor interrompeu nossa conversa. Jasper irrompeu pela porta com sua camisa desabotoada, cabelo desalinhado e olhos brilhando de animação.

— Lucy! Mãe! Vocês viram minhas botas de montaria? O cavalo novo me odeia, e se eu aparecer atrasado de novo, ele vai me derrubar só de birra.

Minha mãe suspirou, mas havia um sorriso em seus olhos. Eu me levantei e fui até ele, alisando sua gola e beijando sua testa.

— Estão no depósito de selas. Eu mesma vi você largando-as lá ontem, fingindo que não era sua responsabilidade guardar.

— Você me espiona?

— Eu sou sua irmã mais velha. Espionar você é minha obrigação moral.

Ele sorriu e saiu correndo, gritando algo sobre apostar corrida depois das aulas. Eu me virei de volta para minha mãe, que agora observava o jardim com uma expressão mais suave.

— Jasper é nosso maior presente — ela disse.

Assenti. 

— Eu faria qualquer coisa por ele.

— Eu sei. É por isso que estou tranquila.

Antes que eu pudesse perguntar o que ela queria dizer com isso, ouvimos o som de um carro estacionado no pátio principal. Minha mãe se levantou imediatamente, organizando mentalmente os próximos passos, como se fosse uma rainha prestes a receber visitas diplomáticas.

— Venha. Vamos receber seu pai.

Descemos juntas as escadas principais, nossos passos ecoando pelos corredores altos. O aroma de lavanda e madeira encerada preenchia o ar. Quando chegamos ao saguão, as portas já estavam abertas e dois homens entravam: meu pai, Cameron Donovan, com seu usual terno azul-marinho impecável, e ao lado dele... Richard.

O tempo pareceu desacelerar. Richard estava especialmente elegante, trajando um paletó cinza claro e uma gravata bordô. Seus cabelos loiros estavam perfeitamente penteados, e aquele sorriso... Ele sempre soube sorrir como se o mundo estivesse em paz.

— Lucy — ele disse, vindo em minha direção com passos firmes. Ele pegou minha mão e beijou meus dedos, um gesto antiquado que, vindo dele, parecia natural.

Eu senti o calor subir ao meu rosto, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele se ajoelhou.

O salão inteiro ficou em silêncio.

— Lucy Donovan — começou ele, tirando uma caixinha de veludo do bolso interno do paletó. — Desde que nos conhecemos, tenho visto em você tudo o que admiro em uma mulher: elegância, força, compaixão... e beleza. Seria uma honra compartilhar minha vida com você. Aceita se casar comigo?

Minha respiração travou. Eu olhei para minha mãe, que mantinha um sorriso tranquilo. Meu pai, ao lado dela, apenas assentiu com orgulho. Jasper apareceu do nada, ofegante, e gritou:

— Aceita logo, Lucy!

Todos riram. Eu também.

E então disse o que, até então, me parecia natural:

— Sim.

Richard se levantou e colocou o anel no meu dedo — uma joia delicada, com uma pedra de safira envolta por pequenos diamantes. Tudo nele era perfeito.

Como ele.

Naquele momento, eu me senti completa. Como se estivesse exatamente onde devia estar. Como se o mundo finalmente tivesse se alinhado para me oferecer tudo o que sempre me foi prometido.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
capítulo anteriorcapítulo siguiente
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP